São Paulo, sábado, 13 de setembro de 1997
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Europa oferece mais do que negócios

CLÓVIS ROSSI
DO CONSELHO EDITORIAL

A União Européia lançou ontem uma isca atraente ao Mercosul, ao mostrar que o acordo que os dois blocos estão negociando deve ir muito além de negócios e comércio, para compor "um desenho estratégico" destinado a transformar o bloco sul-americano em um ator no cenário mundial.
A isca fez parte da exposição que Manuel Marín, vice-presidente da Comissão Européia, o braço executivo do bloco de 15 países, apresentou à cúpula econômica do Mercosul, promovida pelo Fórum Econômico Mundial.
O "desenho estratégico" traçado por Marín oferece ao Mercosul, além de negócios e comércio, "uma cooperação política avançada, com mecanismos de consulta, em que se discuta a agenda internacional, e a discussão do modelo de sociedade, com a participação dos agentes econômicos e sociais".
O desenho não é novo. Esteve sempre presente, desde que, em 94, a União Européia e o Mercosul iniciaram as negociações que desaguaram, no ano seguinte, na assinatura do que o jargão diplomático chama de acordo-quadro.
Ou seja, é uma moldura preliminar à qual novas negociações dão cores definitivas, o que deve acontecer em 1999, em uma reunião de cúpula entre europeus e os países latino-americanos em geral.
Mas ganha uma dimensão nova o fato de a proposta ser explicitada justamente quando o Mercosul sofre pressões dos Estados Unidos para apressar a liberalização comercial no âmbito da Alca (Área de Livre Comércio das Américas).
No mínimo, "é um instrumento interessante para dar ciúme aos EUA", como disse o economista brasileiro Carlos Langoni (Fundação Getúlio Vargas).
Combina com o Brasil
O "desenho estratégico" resumido por Marín combina quase à perfeição com a política da diplomacia brasileira.
Primeiro, porque o vice-presidente da Comissão Européia foi enfático ao dizer que "a integração regional latino-americana não deve diluir-se ou ser substituída pela integração hemisférica".
Traduzindo: o Mercosul deve sobreviver à Alca, exatamente o que quer a diplomacia brasileira.
Segundo, porque a UE defende o Mercosul como "núcleo fundamental" de uma integração latino-americana, por meio da atração de países como Chile, Bolívia e Venezuela e os da Comunidade Andina -Equador, Colômbia e Peru.
Seria, em outras palavras, a Alcsa (Área de Livre Comércio Sul-Americana), proposta no governo Itamar Franco. A Alcsa daria massa crítica e poder de barganha a seus integrantes, na negociação com os EUA, como disse Langoni.

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