São Paulo, sábado, 13 de setembro de 1997
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Novo atentado contra os Games de Risco Real

MARCELO COELHO
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Militantes da APMA (Associação dos Pais e Mestres em Armas) explodiram mais uma Fantasy House na madrugada de ontem, em protesto pela morte de oito adolescentes na semana passada. O atentado à casa de diversões, especializada em RRG, não teve vítimas.
Desde a liberação dos Real Risk Games (Games de Risco Real), há dois meses, 430 pessoas morreram e 1.260 tiveram os membros amputados ao brincar nesses equipamentos de diversão.
"Não podemos nos responsabilizar pela falta de habilidade do usuário", afirmou o diretor de Relações Públicas da empresa Fun or Death, que por razões de segurança continua a se manter no anonimato. (Mas leitores com "Passe Verde!" podem clicar aqui para obter o seu nome completo.)
O porta-voz oficioso da APMA, prof. Robbie, disse que as ações terroristas prosseguirão até que se proíbam completamente os RRG. (Para o desmentido da afirmação, clique aqui -grátis.)
Proibir esses jogos não está nos planos do chefe da Interpol -seção São Paulo-, Quinzinho Cachaça.
"Seria um atentado aos direitos do consumidor e à livre expressão artística."
A Associação dos Críticos de Arte divulgou nota elogiando "a alta qualidade" de alguns games, como o "Masmorras" e o "Bataille".
Segundo um crítico, que não quis se identificar, "sobreviver a um game como 'Bataille' exige dos participantes muita sofisticação intelectual."
Nesse jogo, 32 pessoas já tiveram os olhos perfurados ao teclar erradamente o comando "read me". "Mas valeu a pena", diz uma delas, Eduardo Saad, 15. "A emoção é demais." Ele não acha que os games tenham qualquer conteúdo educativo. "A parte de texto a gente pula", diz.
O presidente da Academia Brasileira de Letras, Amadeu Pintassilgo, também é cético quanto ao valor cultural dos RRG.
"Puro revival da onda dark-decadente de 80 anos atrás", declara. "Infelizmente, nossa juventude não desfruta das coisas boas daquela época. Autores como Paulo Coelho são hoje desconhecidos", lamenta Pintassilgo.
Opinião do jornalista - Os atentados da APMA são uma evidente estupidez.
Vários médicos e funcionários das Fantasy Houses já foram vitimados por esses atos de terrorismo. São assassinados friamente, em nome do quê? Da integridade física de adolescentes que sabiam dos riscos que corriam ao participar desses games. É preciso, entretanto, uma lei que regule melhor os RRG.
Não faz sentido um jogo como "Butcher", por exemplo, onde quem perde é literalmente moído vivo. O ideal seria permitir apenas a morte cerebral como pena máxima para o perdedor, cujo corpo poderia, assim, servir para transplantes.

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