São Paulo, sábado, 13 de setembro de 1997
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Nirmala critica materialismo de países ricos

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
ENVIADO ESPECIAL A CALCUTÁ

Reservada, a sucessora de madre Teresa gostaria de continuar sendo chamada simplesmente de irmã Nirmala, 63. Sabe, porém, que suas companheiras da ordem Missionárias da Caridade já começam a chamá-la de madre Nirmala.
Nomeada superiora-geral em 13 de março passado para um "mandato" de seis anos, irmã Nirmala, 63, passou a ser vista como a sombra de madre Teresa. "Aonde ela ia, eu ia atrás", explicou ontem à Folha, após missa às 5h50 locais.
Sem o carisma de madre Teresa, a nova chefe da ordem pretende continuar viajando ao exterior para divulgar o trabalho das Missionárias. "O trabalho humanitário não pode parar."
Formada em direito, com especialização em ciência política, a sucessora de madre Teresa viaja constantemente à América Latina. Em 1965, por exemplo, foi ela quem fundou a primeira casa da ordem na Venezuela.
Para o ano que vem, um giro mundial, passando por boa parte dos 124 países que abrigam casas das Missionárias, está na agenda. O Brasil, devido a suas semelhanças com a Índia, deverá ser um dos locais visitados.
*
Folha - Nas ruas de Calcutá, um dos temores dos indivíduos "mais pobres dos mais pobres", como dizia madre Teresa, é que, sem ela, as Missionárias da Caridade passem a se enfraquecer. O que a sra. fará para que isto não aconteça?
Irmã Nirmala - Daremos prosseguimento ao trabalho de madre Teresa, simplesmente isto.
O trabalho das Missionárias começou quando ela passou a abrigar os doentes, pessoas que não tinham o que comer, não tinham apoio, não tinham ninguém...
Isso continuará a ser feito. Somos uma ordem com quase 5.000 freiras, com muito amor para dar. Não negamos ajuda para ninguém. O que estiver a nosso alcance, continuaremos fazendo, como madre Teresa fazia desde os anos 40.
Folha - Figura reconhecida internacionalmente, ganhadora do Nobel da Paz em 1979, madre Teresa ajudava a atrair recursos para a ordem. Sem ela, as Missionárias não terão maiores dificuldades financeiras, ficando impossibilitadas de auxiliar os necessitados?
Irmã Nirmala - Eu continuarei indo ao exterior, mantendo contatos importantes para a ordem prosseguir seu trabalho social. No ano que vem mesmo devemos viajar por vários dos países em que trabalhamos.
Mas os recursos financeiros estão longe de ser a base de sustentação das Missionárias. A base do nosso trabalho é o amor pelo próximo, os ensinamentos de Jesus, e isso não depende de dinheiro.
Folha - Antes de assumir a função de superiora-geral, a sra. tomava conta das casas da ordem destinadas à contemplação. A contemplação é tão importante quanto a ajuda ao próximo?
Irmã Nirmala - Sim, elas se completam. Temos 12 conventos destinados à contemplação, à conversa com Jesus. O primeiro foi aberto nos EUA, pois a busca espiritual num país desenvolvido é tão importante quanto a luta por comida num país subdesenvolvido.
Quando o Primeiro Mundo tiver mais espiritualidade e menos materialismo, terá maiores condições de auxiliar o Terceiro Mundo.
Folha - Este ano a sra. pôde conhecer a princesa Diana. Qual foi sua impressão?
Irmã Nirmala - Era uma alma caridosa, que se preocupava com os mais necessitados, que aproveitava de sua condição social para ajudar os mais fracos. Nosso contato foi pequeno, mas madre Teresa gostava muito da princesa, tinha muito carinho por ela e torcia para que ela fosse feliz.

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