São Paulo, sábado, 13 de setembro de 1997
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OS DONOS DO PODER

Foi um almoço cordial. Pelo menos é o que disse para a platéia o senador Antonio Carlos Magalhães, anfitrião da reunião com Sérgio Motta, ministro das Comunicações.
Seja lá o que tenham discutido entre garfadas, em que tom ou em que termos, para a platéia ficou a imagem do afago entre sorrisos, do tapinha nas costas. Para a mesma platéia que nesta mesma semana viu Motta emitir um chorrilho de insultos na direção de aliados e do Congresso, os quais respingaram também, e mais uma vez, em ACM. A primeira impressão é a de que os dois concordam em manter uma inimizade cordial, aliados de fato que são no grande partido situacionista, sobre o qual paira o bonapartismo do presidente Fernando Henrique Cardoso.
Mas essa primeira impressão foca apenas a imagem das duas figuras; deixa de considerar a platéia, que estaria perplexa se não fosse a constância da troca de impropérios, ultimamente tradução da disputa de poder num segundo mandato FHC.
O que pensaram do público os vizires que em dois dias passaram do ultraje mútuo ao minueto palaciano? No conforto atual e provavelmente futuro da situação de donos do poder, parece que se deram o luxo de ignorar a opinião da platéia.
As discordâncias se diluem a não ser quando é preciso vender uma marca no mercado de votos, por meio da mídia: Motta apregoa eleitoralmente as virtudes reformistas do PSDB e desqualifica seus aliados, o PFL de ACM inclusive. No entanto, todos se unem em torno do Real, um consenso político que não se via desde a República Velha. Esse pacto, decerto mais instável que o do país do café, não deixa de ter sabor oligárquico -PFL e PSDB se tornam sublegendas situacionistas.
Em palácios antigos se envenenavam uns aos outros aqueles que trocavam sorrisos nos banquetes. O veneno hoje é servido pelos meios de comunicação; a encenação para a platéia é quase a mesma; o desprezo pela opinião pública é idêntico.

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