São Paulo, sábado, 13 de setembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CRIME E LEVIANDADE

É um despropósito evidente o projeto que permite o abrandamento da pena para crimes hediondos, proposto pelo Executivo, aprovado pela Câmara e, agora, pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado.
Nem seria preciso dizer que é também inaceitável aliviar as penas de estupradores e torturadores. Além do mais, a eventual e tresloucada aprovação do projeto poderia macular a acertada política de redução do encarceramento de condenados que não cometeram violência física.
O caso se agrava pelo fato de a decisão exarada por aquela Comissão ter-se dado, ao que parece, por injustificável displicência. Diante da reação da opinião pública, vários senadores se deram conta do abominável teor da propositura que aprovaram em votação simbólica.
Esse equívoco é ainda mais potencialmente danoso num momento em que já é crescente o descrédito da sociedade brasileira em relação à segurança pública no país. Entre a violência brutal de certos crimes e os defeitos de um sistema de segurança ineficaz e truculento, os cidadãos decerto não tolerariam mais esse disparate, com ossatura legal.
A crescente tensão em toda a sociedade tende a criar predisposições tanto a propostas incivilizadas e demagógicas, como a pena de morte, quanto a posturas unilaterais de alguns que, na luta pelo respeito aos direitos humanos, parecem considerar a polícia unicamente como um agente da opressão.
Resta esperar que, como indicam as últimas declarações de diversos senadores, a decisão sobre os crimes hediondos venha a ser de fato rejeitada pelo plenário do Senado Federal.

Texto Anterior: OS DONOS DO PODER
Próximo Texto: ESTRANHA COMPETÊNCIA
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.