São Paulo, domingo, 14 de setembro de 1997
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Bons dias, mesmo

Barrigudo, sorridente e leve sotaque do interior, Omar Cardoso Filho, 48, foge aos estereótipos do esotérico. Nada de turbantes ou colares de conta. Apenas uma bruxinha e um cristal sobre a mesa do escritório.
Como os herdeiros que assumem empresas da família mesmo sem grande familiaridade com o negócio, Omar, formado em direito, acabou entrando para o ramo esotérico em 1978, depois da morte do pai, o famoso astrólogo-radialista Omar Cardoso, que chegou a ter programas em 315 rádios ao mesmo tempo.
Embalado na fama do pai, Omar fundou o Instituto Omar Cardoso, abandonou a advocacia e expandiu os negócios. Hoje, além do programa na rádio Mundial, o instituto produz horóscopos para 173 jornais, cerca de 300 mapas astrais por mês (entregues pelo correio), edita revistas e administra uma agência casamenteira astrológica (veja quadro).
Com o disque-0900, lançado em novembro passado, Omar aumentou o faturamento -declarado em cerca de US$ 2 milhões mensais- e espera fazer frente ao seu concorrente multinacional, Walter Mercado.
Uma equipe do Instituto Omar Cardoso está na Espanha estudando a viabilidade de abrir por lá um sistema tele-esotérico igual ao brasileiro. "Apesar de ter um sistema de telefonia muito caro, a Espanha é um ótimo mercado. Os espanhóis não saem de casa sem ouvir a previsão do tempo e a astrológica", diz Omar. Da Espanha, a idéia é expandir para a Flórida e a América Latina.
Para prover o número de atendentes necessário, o Instituto Omar Cardoso está abrindo também uma escola. "Vamos formar os místicos e, depois, chamá-los para trabalhar conosco. Não quero falar mal de Walter Mercado, mas eu poderia fazer como ele: ter 300 pessoas atendendo 24 horas por dia, só que sem nenhuma qualificação. Mas não quero sujar o nome que meu pai levou tantos anos para construir", diz Omar.
Tomando todos os cuidados de quem se formou em direito, Omar explica que não deixa os atendentes receitarem simpatias ou velas, "porque a vela pode cair, provocar um incêndio e aí vão dizer que a culpa é minha".
"Também não recomendamos banho de ervas porque a pessoa pode ser alérgica. Aconselhamos ler salmos da Bíblia, livros de auto-ajuda ou procurar um psicólogo. Já ligou gente dizendo que ia se matar. Atendemos, anotamos os nomes e depois um supervisor liga de volta", diz.
A história da família Cardoso com o esoterismo já conta mais de um século. O bisavô de Omar Cardoso Filho já estudava astrologia, passou isso para seu avô, depois para seu pai e, hoje, ele acredita que seu filho caçula, Mateus, 2, é a reencarnação do Omar Cardoso pai.
"Quando se nasce tão ligado a isso, às vezes, não se dá importância. Eu e meus irmãos considerávamos o que meu pai dizia como conselho ou bronca e não como previsão. Mas a vida me ensinou diferente", diz.
A primeira "lição de vida" foi a morte do seu irmão mais novo. "Nasci em 26 de dezembro, meu irmão, no dia 25 de dezembro, e o caçula, em 24 de dezembro. Éramos todos de capricórnio e, se descontássemos os dias dos anos bissextos, teríamos nascido todos no mesmo dia. Meu pai sempre dizia que o capricorniano que passasse dos 12 viveria até os 90 anos. Meu irmão caçula morreu três meses antes de fazer 12 anos. Foi um acidente, uma queda, dentro de casa. Passei a acreditar no meu pai."
O segundo teste foi o nascimento de Mateus. Há sete anos, duas amigas esotéricas de seu pai, que moram em cidades diferentes, o procuraram dizendo que ele teria mais um filho. O menino seria a reencarnação de seu pai, nascendo inclusive no mesmo dia que ele.
"Não dei bola, já tinha dois filhos, não pretendia ter outro, e minha mulher usava DIU. Cinco anos depois, nasceu o Mateus, não no dia do aniversário do meu pai, porque minha mulher teve de fazer cesariana, mas uma semana depois, quando mudou a lua."
Como prova esotérica, para Omar Filho, foi mais que suficiente. Hoje, ele segue numerologia e astrologia, diz que estudou essas "ciências", mas não dá consultas. "Infelizmente, ainda não enriqueci com esse trabalho. Quando isso acontecer, me mudo para Miami."
Por enquanto em Campinas (interior de SP), Omar vive bem em uma casa de 300 m2, com dois carros importados na garagem, mantém uma casa em Ilhabela e faz "algumas viagens" ao exterior por ano.
A fama de seu pai, conhecido pelo refrão "bom dia, mas bom dia mesmo", ainda persiste. Omar conta que um dia foi comprar um sanduíche durante um jogo de futebol e o vendedor não cobrou em homenagem a seu pai. "Ele é taurino e me contou que, depois de ouvir uma previsão do meu pai pelo rádio, saiu de casa e conseguiu um emprego", conta Omar.
Ele diz que muita gente ainda não sabe da morte do seu pai -ocorrida em 1978, inesperadamente, aos 57 anos, por causa de um aneurisma cerebral. Omar pai não era capricorniano.

A repórter Alexandra Ozorio de Almeida viajou a San Juan a convite de Walter Mercado

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