São Paulo, segunda-feira, 15 de setembro de 1997
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O modelo sul-coreano

SILKE WEBER

As reformas educacionais hoje vigentes na Coréia do Sul tiveram início nos anos 60, quando o país, em concomitância com a formulação de planos quinquenais, decidiu promover a expansão do efetivo escolar e elevar os índices de alfabetização, com o aumento do número de alunos por classe, a redução do tempo de formação dos professores, a adoção do sistema escolar noturno e uma campanha de alfabetização de adultos.
Malgrado o sucesso das medidas, a ênfase quantitativa da política educacional foi criticada, e a Coréia passou a enfrentar a questão da qualidade da educação, sobretudo a partir dos anos 80.
Nessa época, foi deflagrado o "Movimento de Reforma da Educação na Coréia", com a criação de uma comissão presidencial para a reforma educacional. Houve, desde então, quatro comissões presidenciais, com a última tendo mandato de 1994 a 1998.
Os debates na comissão conduziram à definição de tônicas que podem ser assim resumidas: redução do conteúdo instrucional escolar, incentivo à pesquisa nas universidades, fortalecimento da educação para informação, pensamento e ética, formalização da pré-escola e diminuição das despesas com educação no orçamento doméstico. Para isso, estão propostos quatro planos de ação: educação ao longo da vida, educação elementar e secundária, educação superior e sistema de apoio.
A educação ao longo da vida, base da construção da "edutopia" de um Estado de bem-estar educacional, deve ser assegurada por um sistema de crédito educacional, com o credenciamento de estudos em programas não-formais ou instituições de treinamento.
No que se refere ao ensino elementar e secundário, é dada ênfase à autonomia e à competição, propondo-se o financiamento das escolas em função dos resultados obtidos pelos alunos nas avaliações da instância governamental.
Dentre as propostas para o ensino superior, destaca-se a sua reestruturação, com a diversificação dos modelos de universidade, a criação de uma pós-graduação profissional, autonomia institucional para definir vagas e atividades acadêmicas e a internacionalização das universidades. O governo central é, pois, quem decide as principais linhas educacionais da Coréia do Sul -o que, evidentemente, não é feito sem conflito.
Mas os avanços reais da Coréia do Sul na educação têm de ser relacionados com a conjuntura política e econômica, com a história e a cultura do sudeste asiático e com o lugar estratégico que o país ocupa na disseminação de modelos educacionais supostamente impulsionadores de desenvolvimento industrial, tecnológico e social.
No Brasil, contudo, tais modelos, antes de ser tomados como referência, precisam ser cotejados com o "ethos" social que se vem forjando ao longo da luta democrática. Ele tem apontado para as potencialidades da gestão compartilhada, cooperativa e interdependente como meio de elevar a qualidade da educação formal e poder, finalmente, materializá-la como direito social básico.

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