São Paulo, segunda-feira, 15 de setembro de 1997
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Mercado financeiro vê a empresa com entusiasmo

CELSO PINTO
DO ENVIADO ESPECIAL

O negócio da aviação é cíclico e tem passado por surpresas. A receita da Boeing, que foi de US$ 30,4 bilhões em 92, caiu para US$ 19,7 bilhões em 95, antes de subir até previstos US$ 46 bilhões este ano. Em 69/70, uma crise no mercado levou a empresa a demitir quase dois terços dos seus funcionários.
Desde que sua controvertida fusão com a McDonnell Douglas foi aprovada nos Estados Unidos e na Europa, em julho, o mercado financeiro tem visto a empresa com entusiasmo.
Uma análise recente do banco de investimentos Credit Suisse First Boston (CSFB), por exemplo, imagina que o grupo em 99, o pico do ciclo positivo de mercado, estará faturando US$ 57 bilhões; o lucro líquido, que foi US$ 1 bilhão no ano passado, será de mais de US$ 4 bilhões e sobrará US$ 4,9 bilhões de dinheiro em caixa.
Isso, a menos que a Airbus, consórcio europeu que se transformou no único concorrente que restou, com um terço do mercado mundial, resolva mesmo tocar seu projeto de um "superjumbo", o A3XX, para 600 passageiros, ao custo de US$ 15 bilhões. Nesse caso, provavelmente a Boeing teria que seguir o mesmo passo.
A compra da McDonnell e da Rockwell elevou para 40% a participação dos negócios de defesa na receita da Boeing. Esse mercado despencou com o fim da Guerra Fria. Os Estados Unidos cortaram o orçamento das Forças Armadas em 35% e as encomendas públicas em 70%, descontada a inflação.
Mesmo assim, e apesar de a Boeing ter como concorrente a Lockheed Martin e a Raytheon, o reforço na área de defesa foi visto como uma forma de compensar as quedas da aviação comercial. A Boeing tem um papel relevante, também, na aeroespacial.
A fusão com a McDonnell foi mal deglutida. Só no dia 1º de novembro a direção da Boeing dirá que linhas vai preservar ou reforçar na empresa.
Graças ao mercado em boom, o grupo deve ficar com 220 mil funcionários e os ganhos se darão na margem, contratando menos funcionários para atender mais encomendas.
Para uma empresa que, no começo dos anos 80, quando a Airbus começou a se dar bem em vários mercados, se viu na obrigação de atacar com a ajuda do governo americano os subsídios europeus que sustentavam a concorrente, a Boeing vive uma fase tranquila. Consolidou um duopólio mundial e ficou com a parte de leão.
Muitos viram a concentração do mercado mundial com complacência, dados os custos de novos projetos e o fato de que essa área jamais foi um mercado aberto.
Não faltou, contudo, oposição. A principal crítica é que, quando um grupo ganha essa posição e essa força, transforma seus problemas em problemas nacionais, torna uma falência quase impossível e pode se dar ao luxo de abusar.
Podem surgir concorrentes no futuro. O CSFB, por exemplo, sugere que a China e a Rússia podem vir a bancar sua aviação comercial no próximo século. Até lá, o céu só não está de brigadeiro porque é possível ver formações de nuvens vindas do Oriente.
(CP)

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