São Paulo, segunda-feira, 15 de setembro de 1997
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Asiáticos são turbulência para a Boeing

CELSO PINTO
ENVIADO ESPECIAL A SEATTLE

Com 67% do mercado mundial de aviões comerciais, 84% da frota de aviões de grande porte, depois que comprou a McDonnell Douglas, e um faturamento estimado em US$ 46 bilhões este ano, o que poderia dar errado com a Boeing?
As perspectivas para a empresa continuam excelentes, ajudadas por um ciclo de expansão da aviação comercial previsto para durar até a virada do século.
Os recentes problemas econômicos com os novos e velhos "tigres" asiáticos, contudo, são uma incômoda turbulência pela frente.
"Esperamos que sejam apenas problemas temporários", disse à Folha o presidente da Boeing Commercial Airplane Group, Ron Woodard.
A Ásia, segundo Woodard, representa 36% da receita da divisão de aviação comercial do grupo, mais do que os Estados Unidos, com 28%. Ainda é cedo, diz ele, para imaginar se a crise monetária asiática poderá afetar a fatia de vendas para a região.
A Ásia é, de longe, a área mais promissora de negócios. A projeção é que o tráfego aéreo cresça robustos 5,5% ao ano na próxima década e 4,9% ao ano nos próximos 20 anos. Na região da Ásia-Pacífico, contudo, a expectativa é de uma expansão de 7% ao ano e de mais de 10% no caso da China. O tráfego aéreo da Ásia deverá superar o dos Estados Unidos em 2.016.
Exatamente olhando a Ásia é que a Boeing fez seu projeto do 777-300, a mais longa aeronave existente (73,8 metros) e a mais potente, com dois motores e capacidade para de 368 a 550 passageiros. O 777-300 é o novo membro da família 777, um projeto de 1990, lançado em 1995, e que é o produto da linha de frente da Boeing, concorrente da família do europeu Airbus 330.
O 777-300 é 10 metros mais longo que o 777 e se viabilizou, em junho de 95, graças às encomendas da chinesa Cathay Pacific e da tailandesa Thai Airways. Até hoje, todas as 50 ordens de compra do 777-300 vieram da Ásia, incluindo também a Singapore Airlines, as japonesas Ana e Jal, a Malaysia Airlines e as coreanas Korean Air e Asiana.
O 300 transporta tantos passageiros quanto os velhos "jumbos" (747-100 e 200), mas é um terço mais econômico. O projeto foi feito ouvindo os clientes asiáticos e pensando para as rotas asiáticas de longo curso, segundo Larry Dickenson, vice-presidente de Vendas Internacionais da Boeing. Outro alvo, diz ele, é torná-lo um substituto dos jumbos antigos que operam na China.
Não por acaso a cerimônia de conclusão da montagem do primeiro 777-300, no último dia 8, na sede da Boeing em Seattle, foi toda oriental, para os presidentes das empresas orientais. O primeiro 777-300 deve ser entregue à Cathay em maio de 98.
E depois da crise monetária asiática? Dickenson diz que, por enquanto, não houve cancelamentos, mas admite que está preocupado. Ele imagina que o pior já passou na Tailândia, com a ajuda do FMI, e acha que outros países, como a Malásia, sairão ilesos.

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