São Paulo, segunda-feira, 15 de setembro de 1997
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Roqueiro descansa em vitória-régia

Sítio Burle Marx

MARISTELA DO VALLE
DA ENVIADA ESPECIAL AO RIO

Os artistas Renato Russo, poeta e músico, e Roberto Burle Marx, paisagista, arquiteto e pintor estão hoje unidos no sítio Burle Marx, em Guaratiba.
As cinzas de Renato Russo estão nas folhagens de uma vitória-régia à frente da casa em que Burle Marx morava, no sítio que atualmente é aberto à visitação pública.
"Foi a mãe do cantor que escolheu o local", conta Zulmira Pope, responsável pelo acervo bibliográfico e arquivístico do sítio.
Segundo ela, Renato Russo queria que suas cinzas ficassem no meio de plantas e sua mãe preferiu um lugar mais afastado.
Com ou sem Renato Russo, o sítio Burle Marx merece uma visita pelo museu ali existente.
O paisagista colecionava objetos de arte do Brasil inteiro, adaptava portas e fachadas antigas às construções de seu sítio e, obviamente, tinha um cuidado especial com seus jardins, até hoje tratados pelos mesmos jardineiros da época em que ele estava vivo.
Sem contar com os quadros e tapeçarias produzidos pelo próprio Burle Marx.
Fazenda de bananas
O sítio foi comprado pelo paisagista em 1949, em sociedade com o irmão. Em 85, foi doado ao atual Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), pertencente ao Ministério da Cultura.
As construções da sede de uma fazenda de bananas e de uma capela datada de 1681 estão bastante preservadas.
O jardim, com cerca de 3.500 espécies de plantas, pode ser visitado com a companhia de um guia, que dá uma verdadeira aula de botânica e fala particularidades sobre "Roberto", forma a que se refere a Burle Marx, como se ele ainda estivesse presente, cuidando de seu jardim e observando tudo.
Na varanda da casa do paisagista, uma série de carrancas coloridas compradas no Nordeste revela o gosto de Burle Marx pela arte popular brasileira.
E não era só obras de arte que ele adquiria em suas andanças. A porta de uma das salas, provavelmente de uma igreja do século 18, foi comprada em Pernambuco.
Ela guarda uma coleção de peças de cerâmica feitas por artistas do Vale do Jequitinhonha.
A casa de Burle Marx (ex-sede da fazenda), onde está a coleção, só será aberta ao público em novembro, depois que for instalado um sistema de alarme. Só então o público poderá apreciar os auto-retratos pintados pelo paisagista.
Ateliê
Uma fachada de pedras do século 18 no meio do mato. Assim é o aspecto do ateliê concebido por Burle Marx, inaugurado alguns meses antes de sua morte.
A fachada da construção pertencia a um prédio antigo do centro do Rio de Janeiro, que foi demolido. Ela corria o risco de virar pedra de britadeira e foi doada pelo Iphan ao paisagista.
Por dentro, o ateliê é um galpão aberto, com quadros, tapeçaria e até um lustre desenhado pelo artista. Burle Marx tinha a intenção de se mudar para lá, mas logo depois que o ateliê ficou pronto, adoeceu. Durante a doença, permaneceu na antiga sede do sítio, onde ficou até a morte, em 1994.

Sítio Roberto Burle Marx - estrada da Barra de Guaratiba, 2.019, tel. (021) 410-1171. Ingresso: R$ 3. Visitação, apenas com hora marcada, diariamente, às 9h30 e às 13h30

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