São Paulo, quarta-feira, 17 de setembro de 1997
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Ciro faz último lance e espera em Sobral

CLÓVIS ROSSI
DO CONSELHO EDITORIAL

O ex-ministro Ciro Gomes fez ontem o seu último lance no xadrez da sucessão presidencial, ao se reunir em Brasília com a bancada do PSB e com deputados que considera independentes.
Feito o lance, Ciro deixa a iniciativa para os partidos e fica na espera, até o dia 25, prazo final que ele próprio dá para a formação de uma minifrente pela qual possa ser candidato à Presidência.
Vai rezar junto ao túmulo do pai, em Sobral, no interior do Ceará, no que seus inimigos locais já estão chamando de operação "Colombey-les-deux-Églises" do sertão.
É alusão à cidadezinha francesa à qual se recolheu o general Charles de Gaulle, até ser convocado para voltar à chefia do governo, em um país que sangrava abundantemente em consequência da guerra da independência da Argélia, então possessão francesa.
Guardadas as proporções, é o que Ciro pretende fazer: aguardar que se crie a frente de centro-esquerda, em torno de um projeto cujo esboço é do próprio Ciro e do filósofo brizolista Roberto Mangabeira Unger.
"Vou esperar que o PSB diga se está aberto a esse projeto", disse Ciro aos deputados ontem.
Se não estiver, o ex-ministro admite filiar-se ao PPS, como forma de abrir "a discussão sobre o projeto para agora (a eleição de 98) ou para depois".
Ciro descarta, desde já, a participação de PT e PDT nessa frente. "Eles estão me atacando mais do que o governo", exagera.
O governo pode até estar tentando minar a candidatura Ciro Gomes, mas não fez ataques de público, até agora.
Não a 2002
Mas o ex-governador do Ceará não tem muitas ilusões a respeito da formação da frente. Acha difícil que ela se concretize pelo menos para 1998. Por isso, deixa todas as opções abertas para depois do dia 25, até a que considera "mais remota", a de permanecer no PSDB, como dissidente.
Só elimina a hipótese de recompor-se com o governo Fernando Henrique Cardoso.
Na segunda-feira, Ciro passou cerca de três horas conversando com o governador cearense, Tasso Jereissati, seu amigo e uma espécie de padrinho político.
Tasso defendeu o governo FHC, como é óbvio, em se tratando de um dos poucos tucanos que ainda consegue ser ouvido pelo presidente. Ciro preferiu dar o governo como "um caso perdido".
Ciro jura que Tasso não lhe fez pedido algum para permanecer no partido. Apenas disse, ocultando o sujeito, que "pediram para pedir" que ele ficasse. Mas emendou: "Não vou fazer isso, porque acho que você sabe o que está fazendo."
O que flutuou no ar, na prolongada conversa entre os dois, foi a possibilidade de que Ciro seja o candidato do PSDB à Presidência em 2002.
Não que Tasso tenha feito a sondagem de maneira aberta. Apenas disse que Ciro tem "um grande futuro político pela frente".
Mas, na sexta-feira, em conversa com a Folha, Tasso havia dito que os caminhos de Ciro no partido não estavam bloqueados, ao contrário.
"Ele pode perfeitamente ser o candidato em 2002", disse o governador.
A hipótese parte do princípio de que, como FHC não poderá concorrer a uma segunda reeleição, o partido terá que procurar um candidato. Ciro, jovem como é, teria todas as condições de ser o escolhido.
"Para 2002, a gente pode conversar", reforça o presidente nacional do PSDB, senador Teotonio Vilela Filho (AL).
Ciro não parece ter disposição para esperar tanto tempo. Está, ao contrário, pronto para disputar já em 1998, mesmo admitindo que o tempo de TV para a sua eventual frente, no horário gratuito, "será uma porcariazinha" (menos de dois minutos).
O ex-governador acha um erro os políticos apostarem tanto no horário gratuito. Prefere apostar em um programa de governo, cujas linhas gerais foram traçadas por ele e pelo filósofo Roberto Mangabeira Unger, no tempo em que conviveram em Harvard (EUA). É um programa de "capitalismo regulado", como o define Mangabeira Unger.

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