São Paulo, quarta-feira, 17 de setembro de 1997
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O sangue nosso de cada dia

ELISALDO CARLINI; MÁRIO IVO SERINOLLI

ELISALDO CARLINI
MÁRIO IVO SERINOLLI
Na administração do ministro Adib Jatene, pela primeira vez no Brasil, técnicos das vigilâncias sanitárias receberam treinamento em medicina transfusional, totalizando 200 profissionais de todos os Estados brasileiros que obtiveram reciclagem sobre a fiscalização de bancos de sangue.
O treinamento ocorreu na Fundação Pró-Sangue de São Paulo, classificada como centro de excelência pela Organização Mundial de Saúde e centro de referência para a América Latina.
Inspeções foram realizadas até em áreas de difícil acesso -Acre, Rondônia, Amapá, Tocantins, interior de Goiás e Bahia.
Disso resultou que 90% do sangue coletado pelo SUS (Sistema Único de Saúde) fosse avaliado e inspecionado. Várias regiões foram abastecidas com sangue de boa qualidade.
Bancos de sangue foram interditados por executar testes para HIV e hepatites B e C em "pool" (várias unidades de sangue testadas com apenas um kit) ou não executá-los. Os inspetores realizaram mais de 3.000 recomendações e 700 atos administrativos.
Foram, ainda, detectadas e corrigidas irregularidades de faturamento junto ao SUS da ordem de R$ 24 milhões/ano.
Infelizmente, esse e outros programas de proteção à saúde da população estão agora paralisados, inclusive programas para bancos de sangue, elaborados por especialistas universitários convidados.
Por exemplo, o programa de controle de qualidade de laboratórios de sorologia, pelo qual amostras de sangue previamente testadas eram encaminhadas aos bancos de sangue e os resultados por eles obtidos eram analisados visando corrigir erros, não está tendo continuidade.
Certamente, com isso, aumenta a possibilidade de transmissão da hepatite C ou B, sem falar da Aids e da doença de Chagas.

Por que não continuar o que sabemos que precisa ser continuado?
Perguntamos: Por que não fazer o que deve ser feito? Por que não continuar o que sabemos que precisa ser continuado?
Por que não investir em prevenção de doenças? Por que não aproveitar os 200 técnicos brasileiros de vigilâncias sanitárias já capacitados? Por que desperdiçar dinheiro público interrompendo programas que obrigatoriamente devem ser recomeçados? Por que permitir a transmissão de doenças pelo sangue?

Elisaldo L. A. Carlini, 65, médico, é professor-titular de psicofarmacologia da Universidade Federal de São Paulo. Foi secretário de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde.

Mário Ivo Serinolli, 37, médico, é superintendente de qualidade da Fundação Pró-Sangue (Hemocentro de São Paulo).

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