São Paulo, quarta-feira, 17 de setembro de 1997
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Caminhos para a geração de empregos

ESPERIDIÃO AMIN

Dinamizar nossas exportações é instrumento indispensável para criar oportunidades e empregos. Não é admissível que nosso país participe do comércio internacional com 6% do seu PIB enquanto a média mundial é de 19%. O Brasil já representou 1,7% do comércio do mundo; hoje, não chega a 1%.
A globalização é irreversível, sim! Mas exige precauções competentes para evitar que joguemos fora anos de trabalho, perdendo empregos por mero descuido. Nós entramos nesse processo ingenuamente, como se fossemos a um baile. Na verdade, é um "baile de cobras".
Estamos no "baile" sem protetor de perna e de olhos vendados. E as "cobras" (os profissionais) vão nos "picando", mordendo empregos, oportunidades, empresas e empreendimentos.
Dois instrumentos são necessários para que o Brasil reduza as desvantagens que afligem nossa economia em matéria de competitividade. É claro que não substituem as reformas -tributária, política, administrativa e previdenciária- constitucionais.
Refiro-me ao nosso Eximbank e a uma central de atendimento a denúncias de importação predatória.
O Eximbank que propomos está sendo assumido -em sua gestão- pelo BNDES. O que defendemos é a constituição de mecanismo ágil e com alto poder decisório, expressão da vontade política do presidente da República e do governo, capaz de dar consequência a objetivos de incrementar os volumes de nossa exportação, aumentando, também, o número de exportadores e diversificando os bens, produtos e serviços a exportar.
Tive a oportunidade de ser autor e relator da proposta que resultou na Resolução nº 50/93, no Senado Federal, que dispõe sobre financiamento à exportação.
Não estamos despendendo nem sequer os valores orçados para equalizar juros nas operações de exportação. Temos sido tímidos no enfrentamento do desafio de gerar empregos ampliando nossas exportações.
Se pudermos elevar em US$ 50 bilhões nossas exportações, estaremos gerando -numa estimativa superficial- mais de 3 milhões de empregos.
Com US$ 60 bilhões de reservas cambiais e com um déficit em conta corrente de US$ 35 bilhões em 97, aumentar exportações é questão de sobrevivência para nossa política econômica e para o real.
O objetivo de exportar mais tem no presidente Fernando Henrique Cardoso um padrinho sob medida, pela sua vivência política e experiência pessoal. O Eximbank é o emblema da postura ativa e afirmativa de um país que pode e precisa exportar mais.
A central de atendimento a denúncias de importação predatória deve ser constituída como uma ONG (organização não-governamental) -ágil e capacitada- destinada a proteger os nossos empregos e os nossos empreendimentos.
Deve significar a união e a convergência do capital e do trabalho nacionais com vistas a, em tempo real, com eficácia e capacidade de comunicação, obstaculizar as incessantemente criativas formas de nos enganar que os exportadores dos outros, os nossos "importadores", os novos contrabandistas e os fraudadores em geral são tentados a utilizar. E são tentados a utilizar por nós -pelo nosso descuido, pela nossa falta de cautelas e de proteções que outros países têm e utilizam.
Recentemente, em audiência com o ministro Pedro Malan, representantes da indústria têxtil nacional -talvez o setor mais agredido pela nossa desatenção e pela nocividade dos "concorrentes internacionais"- ofereceram vários elementos comprovando suas denúncias e suas queixas.
O argumento mais eloquente foi trazido pela representante de uma empresa de confecção de Santa Catarina. Ela entregou ao ministro uma camisa cuja "grife" era "because is Brazil" (porque é o Brasil). Sim, eles fazem essas espertezas com sucesso porque o "cliente" é o Brasil, grande e descuidado.
Creio ser indispensável frisar que a adoção desses dois instrumentos terá consequências que beneficiarão todos os setores: o comércio, o turismo, as micro e pequenas empresas e a agricultura.
O desenvolvimento dessas idéias é de responsabilidade de todos os que sabem que, além de denúncias, a grande causa da luta por geração e proteção de empregos no Brasil precisa de um mínimo de inteligência e do máximo de solidariedade.

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