São Paulo, quarta-feira, 17 de setembro de 1997
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Uma questão de caráter

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - O governador de São Paulo, Mário Covas (PSDB), pode ter 101 mil defeitos, mas entre eles certamente não se encontra o de ser desleal política e partidariamente.
No caso específico do hoje presidente Fernando Henrique Cardoso, Covas deu uma demonstração definitiva de lealdade partidária ao tentar ajudar a carregá-lo na campanha eleitoral para a prefeitura paulistana, em 1985.
Não era um candidato fácil, pois FHC ainda não havia aprendido a beijar criancinhas nem a comer buchada de bode. Nem havia o Plano Real, claro.
De FHC, disse Jânio Quadros, o seu principal rival: "Até Fernando Henrique ser conhecido em Sapopemba (bairro não tão periférico de São Paulo), a eleição já estará terminada". Jânio acertou. E elegeu-se.
Seria injusto dizer que FHC é desleal, no terreno político e partidário. Seus pecadilhos fazem parte da política, que é um exercício de egos monumentais e, no Brasil, propício à autofagia entre companheiros.
Agora, no entanto, está posto o teste para medir a lealdade de FHC aos que lhe foram leais. Se não fizer tudo a seu alcance para remover os obstáculos à candidatura Covas à reeleição, estará na prática fazendo uma aliança preferencial com Paulo Maluf.
Em 1994, ao escolher o PFL, FHC fez uma guinada fortíssima. Até então, em todas as eleições de que participou, direta ou indiretamente, FHC esteve na calçada oposta à do PFL. A lista impressiona. Pena que o espaço não me permita rememorá-la.
De duas, uma: ou FHC errou o tempo todo nas suas alianças políticas pré-94 ou errou em 94. Com Maluf, então, o percurso é ainda mais oposto, pois nem em 94 se reconciliaram eleitoralmente.
É por isso que a ação de FHC em relação ao pleito paulista representa não uma definição ideológica, mas, para o meu gosto ao menos, algo bem mais importante: é uma questão de caráter.

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