São Paulo, sexta-feira, 19 de setembro de 1997
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Que Deus salve a rainha Elizabeth e o papa

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

O papa vem aí.
Por conta da importante visita, semana passada uma repórter da 89 FM esteve em casa para me entrevistar.
"Que recado você gostaria de mandar ao papa?", perguntou. Aqueles todos, bem irados, que um monte de gente gostaria de mandar, pensei e chutei.
Mas, depois, pensei de novo. E acabei sendo catapultada para a semana da morte da princesa Diana e para todo o diz-que-diz em torno do comportamento supostamente sisudo da rainha Elizabeth perante a morte da nora.
A submissão que os católicos praticantes dedicam ao papa não encontra paralelo na religião dissidente do barba azul Henrique 8º.
A Igreja Anglicana, cujo equivalente ao papa é Elizabeth, avó do ídolo "teen", o príncipe William, mãe do príncipe Tampax e sogra da princesa bulímica, é tocada por gente como a gente.
Assim como qualquer de um nós, pecadores fedorentos, os pastores da Anglicana têm mulher, filhos, amante, financiamento da casa para pagar, dúvidas, dívidas, gastrite...
É brincadeira o que os ingleses adoram lançar moda? Quando não é na King's road, eles "fazem moda" sacudindo as grades dos palácios reais e cobrando satisfações da cansada sogra de Diana.
Você consegue ver o papa dando uma de Elizabeth? Consegue ver o papa, só uma vezinha, cedendo às fraquezas pestilentas de seu rebanho?
Tudo bem. À Elizabeth 2ª coube a tarefa de reinar sobre um império que se desmonta (a destruição da ilha de Montserrat, no Caribe, é a alegoria). Mas será que Carol Woitila, no aconchego daquela camona, no jumbo 747 que a Alitalia costuma colocar a sua disposição, nunca pensa que a Bíblia levou 743 anos para ser escrita e que seus autores, boa parte das vezes, têm identidade ou intenção duvidosas?
God save the queen. Ou melhor, os assessores de Saint James e o Tony Blair que tentem salvar a monarquia. Mas ninguém pode dizer que Buckingham não está tentando encontrar a direção do vento.
Já o papa... ai, o papa. Dá-lhe Edir Macedo! O papa deve pensar que ainda administra o quintal do Torquemada.
Que se dane o sofrimento de milhões de pessoas por conta de pecados horrendos como a infidelidade, a prática do aborto, o uso da camisinha e a opção pelo homossexualismo.

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