São Paulo, sexta-feira, 19 de setembro de 1997
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FMI propõe segunda geração de reformas

CELSO PINTO
DO ENVIADO ESPECIAL A HONG KONG

Se os países latino-americanos quiserem sair do patamar insatisfatório de crescimento de 4% a 5% ao ano para algo entre 7% a 8%, terão que se engajar numa "segunda geração de reformas", sugeriu ontem o diretor-gerente do FMI Fundo Monetário Internacional), Michel Camdessus.
A estabilização e a abertura no comércio foram bem sucedidos, mas não se refletiram em taxas de crescimento necessárias para o continente. A receita para isso exige "mudanças muito mais profundas nas instituições dos países", observou Camdessus, que está em Hong Kong para a reunião anual do FMI e do Banco Mundial.
As mudanças recomendadas passam tanto por áreas tradicionais, como a ampliação do papel do setor privado, como por áreas que refletem novas preocupações do FMI, como a redução na corrupção, melhora no sistema policial e a geração de mais recursos fiscais que permitam mais investimentos em capital humano.
Tailândia
As preocupações mais imediatas do FMI, contudo, estão em outra direção. O pacote de ajuda à Tailândia não resolveu a crise monetária asiática e as dúvidas sobre sua implementação ampliaram ainda mais a queda no valor das moedas.
Ontem, Camdessus procurou amenizar a impressão de que o pacote com a Tailândia poderia fracassar. Reafirmou sua confiança de que o programa será implementado, apesar de ser bastante duro e a despeito do risco de que um voto de desconfiança derrube o atual governo. Funcionou: a moeda tailandesa, o baht, recuperou-se e fechou em alta.
O mercado, segundo Camdessus, está esperando a efetiva implementação do programa para recuperar a confiança. Embora a Tailândia tenha cumprido alguns objetivos macroeconômicos, disse, mal começou a reforma de seu sistema financeiro. A fragilidade dos bancos foi um dos fatores que levou à crise monetária tailandesa.
Camdessus reconhece as dificuldades políticas do ajuste. Mas o considera inevitável.
"Acredito firmemente que nesse mundo globalizado ninguém tem mais o direito de cometer erros", observou. "Todos os governos devem competir por excelência e não podem ficar vulneráveis."
A Tailândia, lembrou, tinha um desempenho brilhante no crescimento da economia e das exportações, mas era vulnerável no excesso de déficit em conta corrente e de financiamento de curto prazo e na fragilidade do sistema financeiro.
Uma das lições que a crise da Tailândia deixa, segundo Camdessus, é que os governos precisam ser cada vez mais transparentes. "A transparência é a melhor proteção contra o instinto de rebanho dos mercados", disse.
A busca por novas formas de tornar as informações mais transparentes é um dos temas que o FMI vai lidar em Hong Kong. Outro é a proposta do fundo de incluir em seus estatutos poderes para exigir dos países-membros a liberalização na movimentação de capitais.
O tema tornou-se ainda mais controverso depois da crise asiática, mas Camdessus insiste que a liberalização seria "ordenada", com previsão de períodos de transição para países mais vulneráveis.
Outro tema que preocupa é a unificação monetária européia e seus impactos. Camdessus disse estar confiante que a unificação acontecerá no prazo previsto.
O que o preocupa não são pequenos desvios de alguns países em relação a metas, até porque a convergência das economias tem sido "impressionante". O que deveria preocupar, disse, é a pouca flexibilidade existente em algumas áreas, como o mercado de trabalho.

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