São Paulo, sexta-feira, 19 de setembro de 1997
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Quem viver verá as mudanças no futebol

CARLOS MIGUEL AIDAR
ESPECIAL PARA A FOLHA

O futebol nasceu como mera recreação e evoluiu para um produto altamente rentável e cobiçado pelos mais variados segmentos que o exploram.
Sem dúvida alguma, é hoje e deve ser tratado como um produto. Os números não mentem.
Se dúvida houver, indague-se à Fifa por quais razões é ele cuidado em gabinetes fechados, quase herméticos, escuros, nos quais as luzes de fora custam penetrar.
Porém por ter nascido como competição, há mais de um século, sem regras comerciais, embora as do jogo sejam internacionalmente conhecidas, as normas mercadológicas que atuam sobre o futebol ficam, dia após dia, defasadas.
Os fatos sociais atropelam as leis e é preciso que essas leis sejam renovadas para se adaptarem às novas realidades, principalmente em mercado tão florescente, porém carente de inteligências voltadas para o bem comum.
Na Europa, na Ásia, na América do Norte, os clubes, quase todos, de há muito se organizaram profissionalmente sob a forma de sociedades comerciais, a expressiva maioria com suas ações cotadas em Bolsas de Valores.
Aqui no Brasil não será diferente. É só uma questão de tempo.
Imagine, pacientes leitores, o São Paulo/Enic (English National Investiment Company) disputando um certo campeonato com o Corinthians/Excel, com o Palmeiras/Icatú, com a Portuguesa/Pactual, com o Santos/Pontual, com o Flamengo/Garantia, com o Fluminense/Opportunity, o Vasco/Salomon Brothers, o Botafogo/Indosuez, o Bahia/Merryl Linch, o Grêmio/Bradesco, o Cruzeiro/Itaú e assim por diante.
Máximo de 20 clubes-empresa, reunidos e associados entre si na "holding" do futebol dos clubes empresas, denominada Liga Brasileira de Futebol.
Resultado: criação da Liga Nacional e início do campeonato da Liga Brasileira. Sucesso total, desportivo e financeiro. Clubes-empresa fortes, profissionalizados e modernos, altamente competitivos, qualidade técnica inimaginável, árbitros organizados em sociedades prestadoras de serviços, direitos de televisão muito mais bem vendidos no sistema "pay-per-view", calendários racionais e inteligentes.
Por que resistir à realidade e aos novos rumos do futebol?
Só os menos inteligentes e só os conservadores ultrapassados não aceitam a nova realidade que se avizinha do futebol brasileiro.
Pior cego, dizia minha saudosa avó, mulher das frases prontas, é o que não quer ver. Quem viver verá.

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