São Paulo, sexta-feira, 19 de setembro de 1997
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'Maria Quitéria' revive teatro de heróis nacionais

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Fernando Peixoto, o diretor de "Maria Quitéria", é dos nomes que saltam dos livros de história do teatro brasileiro. Foi ator no primeiro Oficina nos anos 60 e diretor de montagens celebradas nos anos 70, como "Calabar".
Atuou também no Arena e tem seu nome vinculado a trabalhos com um viés de esquerda, além de um estudo intermitente de Brecht. Em "Maria Quitéria", dirige no modelo que se acredita tenha sido o das montagens político-históricas no Arena e posteriores.
Como antes cantavam Zumbi e Tiradentes, ou Calabar, ou frei Caneca. Aqui trata-se de uma heroína, mas em muito semelhante, sobretudo na exaltação, aos demais personagens da história brasileira, como era revista então.
A peça "ensina" que a independência do Brasil também teve "muito sangue derramado", e parte para a história da baiana que se travestiu para lutar contra os portugueses. Como esperado, um espetáculo de humor, como antes, mas em parte estranhamente ingênuo, pouco brechtiano.
Também escorrega na descrição histórica algo escolar -certamente para satisfazer o público de estudantes, alvo manifesto da companhia. Mas o próprio diretor, no programa, escreve que a peça "não se transforma em aula: mantém ágil teatralidade".
A vida de Maria Quitéria (uma eficiente Suia Legaspe) é acompanhada em todos os seus sucessos: o conflito com o pai, que é contra sua vontade de seguir para a batalha; a paixão comicamente conflituosa de José Luiz, colega no Exército; a frustração no encontro tão sonhado com d. Pedro 1º.
D. Pedro e José Luiz são feitos pelo ator (Alberto Amorim) mais bem-sucedido na ironia que, acredita-se, seria o ideal de um espetáculo assim. Ele e Airton Renô, que consegue evitar que o retrato do escravo Congo caia no clichê ou, o que seria pior, na idealização.
Não é um texto modelar, o de Marici Salomão, com as suas piadas inadequadas e suas quedas para a ingenuidade ("quero fugir feito pássaro, na direção do sol"), mas ele é significativo.
Tem um bordão, expresso pela Morte (Graça Berman), que beira o niilismo: "As idéias dão a impressão de que o mundo muda. Muda não." É Fernando Peixoto, quem poderia imaginar.
(NS)

Peça: Maria Quitéria Quando: ter. e qua., às 21h
Onde: Teatro Itália (av. Ipiranga, 344, tel. 011/257-3138)
Quanto: R$ 5

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