São Paulo, domingo, 21 de setembro de 1997
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Casal percorre o São Francisco em 31 dias

Filho de 2 anos acompanha os pais

RITA NAZARETH
DA REPORTAGEM LOCAL

Quatro de outubro de 1501 -dia de São Francisco. A caravela de Américo Vespúcio sai do mar e aporta em um tranquilo curso de água doce no Nordeste brasileiro. Em homenagem ao santo, o navegador florentino dá o nome ao rio.
Serra da Canastra (MG), 1º de agosto de 1997. Local onde nasce o rio São Francisco. Destino: foz ou término do rio. Após 496 anos da descoberta, o fotógrafo Luiz Fernando, 32, e a enfermeira Elígia Mazza, 36, acompanhados pelo filho Oman, de 2 anos, realizam um sonho antigo: atravessar o São Francisco em um mês.
Essa não foi a primeira viagem do casal. Luiz Fernando e Elígia já percorreram três vezes o litoral brasileiro e duas vezes o cone sul (Argentina, Uruguai, Paraguai e Chile).
Preparativos
Depois de quatro meses de pesquisas em universidades e bibliotecas, o casal Mazza chegou a uma conclusão: apesar da importância do rio, que abriga uma das maiores usinas hidrelétricas do Brasil (Paulo Afonso), há poucos relatos sobre o assunto. "Teríamos de enfrentar o São Francisco quase às cegas", afirma Fernando.
Outro empecilho seria a falta de patrocínio. "A única coisa que conseguimos foi um barco, cedido pela empresa Zefir", diz Elígia.
Apelidado de "Namorado", o barco inflável de 3,8 m, com motor de 30 hp, só entrou na água em Pirapora (MG). "De São Paulo até lá, fizemos o percurso de carro, pois este trecho não tem profundidade suficiente para navegação", diz Fernando.
No barco, o casal levou um GPS (aparelho que dá orientações sobre posições e distâncias durante uma navegação), um telefone celular, uma filmadora, três câmeras fotográficas e equipamento de camping. "Levamos também arroz e feijão e deixamos para comprar carne e vegetais durante as paradas", diz Elígia.
Para beber, apenas água mineral. "Usamos a água do rio só para tomar banho e fazer análise", dizem.
Orientados por uma professora de microbiologia ambiental, o casal coletou água de vários pontos do rio. "O resultado ainda não está pronto, mas chegou-se à conclusão de que a probabilidade de existir microorganismos nocivos é grande", diz Fernando.
Subdesenvolvimento
Em terra firme, o casal aproveitou para conhecer os aspectos humanos da região. "Acampávamos nas ilhas do rio e em certos locais, dormíamos em hotel", diz Elígia.
Segundo Fernando, a população ribeirinha tem condições elementares de subsistência. "Alguns moram em barracas de lona, jogam agrotóxico sem critérios nas roças e tomam a água do rio, que também é usada para banho e lavagem de roupas e animais", diz.
O momento mais dramático, segundo Elígia, foi ver o trabalho infantil. "É comum ver crianças cortando mandioca com facas afiadíssimas", diz a enfermeira. "Elas não estão na escola porque em certos lugares há professores que não recebem há quatro meses das prefeituras."
Luiz Fernando, Elígia e Oman percorreram 3.161 km em 31 dias. Passaram por mais de cinquenta cidades e hoje afirmam que o São Francisco é uma fotografia do Brasil. "Faltam escolas, médicos, comida, infra-estrutura", diz Fernando. "Mesmo assim, continuam preservadas as belezas naturais e o calor humano."

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