São Paulo, domingo, 21 de setembro de 1997
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Construção resiste à queda da Bolsa

VANESSA ADACHI
DA REPORTAGEM LOCAL

Enquanto a Bolsa caía e caía desde meados de julho, um grupo de setores passava firme pela turbulência, chamando a atenção para um traço comum que parece indicar tendência. Todos, direta ou indiretamente, estão ligados à construção.
Construtoras, madeira, cimento e siderurgia encontram-se na lista dos dez setores que tiveram melhor desempenho durante a crise da Bolsa. A constatação é da Economática, que levantou para a Folha o comportamento de 250 papéis no período de 8 de julho a 15 de setembro.
A pesquisa reforça uma tese que tem se tornado unânime entre analistas de investimento: as ações ligadas ao setor de construção, principalmente dos fornecedores de matéria-prima, têm grande potencial de valorização diante do estímulo que governo promete dar à construção civil.
"É o setor ideal para apoiar o crescimento da economia: altamente empregador e não importador", afirma o analista-chefe do Lloyds Bank, Flávio Conde. "Mesmo que o governo venha a frear a economia, já estão garantidos os mecanismos que vão sustentar a construção", diz ele, referindo-se às alterações nas regras do financiamento da habitação que estão sendo propostas.
Aposta do governo
O próprio ministro do Planejamento, Antonio Kandir, tem apontado a construção como o terceiro ciclo de consumo do Real, depois de alimentos e eletroeletrônicos/eletrodomésticos. Mas com as vantagens citadas por Conde.
Por essa razão, empresas como Gerdau e Belgo Mineira, que fornecem vergalhões de aço para a construção, Duratex, que fabrica madeira e louças sanitárias, e Elevadores Atlas têm figurado constantemente na lista de recomendações de compra dos principais bancos de investimento.
Enquanto o Ibovespa (principal índice da Bolsa paulista) caiu 20,2% de 8 de julho a 15 de setembro, o setor de siderurgia recuou 3,5%, e cimento, apenas 0,8%, segundo a Economática. O setor de madeira teve até ligeiro desempenho positivo, de 0,06%.
As construtoras dispararam no período, com alta de 46,4%, embora com a ressalva de que as empresas do setor listadas na Bolsa são poucas e sem liquidez.
Nova onda
Alguns analistas, como Teresinha Moniz, do Banco Fator, já falam nos setores ligados à construção como a "quarta onda" de alta na Bolsa, depois de telecomunicações, energia e bancos.
"Setores como telecomunicações e energia continuam muito fortes na Bolsa, mas a tendência é de pulverização para os setores privados. Aí, aqueles ligados à construção civil tem muito potencial", diz o analista de investimentos Marco Melo, do Banco Bozano, Simonsen.
Ele acredita que a demanda reprimida por bens de consumo duráveis, alimentos e vestuário já foi atendida nas classes C e D.
"Agora, essa parcela da população deve se voltar para a aquisição ou reforma da casa própria e as empresas ligadas ao setor serão beneficiadas por esse 'boom"', diz.
Rodolfo de Angele, analista do Banco Patrimônio, destaca que desde o final de 96 o mercado de materiais de construção está aquecido, principalmente no chamado segmento "formiga", de pequenas reformas em residências.
Um estudo do Bozano, Simonsen com 170 empresas de 23 setores mostra que as empresas de materiais de construção tiveram o maior retorno patrimonial médio do primeiro semestre: 15%. A rentabilidade média de todos os papéis listados foi de 4,1% (a taxa é semestral, não anualizada).
Outro ponto que reforça a crença na valorização desses papéis é a tendência de investimentos em infra-estrutura a partir das privatizações e mesmo em função das obras públicas que virão por conta das eleições do próximo ano.

LEIA MAIS sobre construção e Bolsa nas págs. 2-7 e 2-8

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