São Paulo, domingo, 21 de setembro de 1997
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Desbravando Marte

RONALDO ROGÉRIO DE FREITAS MOURÃO
ESPECIAL PARA A FOLHA

A importância da missão Mars Pathfinder deve ser avaliada sob dois aspectos. O primeiro, mais tecnológico, se refere à concepção do programa telerrobótico de exploração e a suas implicações para as missões futuras.
O segundo aspecto, mais científico, se limita às suas consequências na pesquisa astronômica, em especial na explicação da origem dos planetas e da evolução das atmosferas planetárias. Esta última é da máxima importância ecológica.
O êxito tecnológico da missão Pathfinder, em especial do veículo-robô Sojourner, mostrou que a Nasa (agência espacial dos Estados Unidos) está no caminho certo: o desenvolvimento de módulos de pousos e de veículos teleguiados para explorar os planetas.
Futuras missões
Os pousadores e os microrrobôs do futuro serão planejados com base nas tecnologias testadas nesta missão. Além de serem de excelente qualidade, os dados e imagens transmitidos pela Pathfinder serão fundamentais à organização das futuras missões tripuladas e não tripuladas a Marte.
A sonda Pathfinder pousou dentro do sítio-alvo de descida previsto, em Ares Vallis. A desaceleração da sonda durante a sua entrada na atmosfera, em 4 de julho de 1997, esteve diretamente relacionada à densidade das altas camadas atmosféricas. Os dados obtidos sobre a densidade da atmosfera superior estão sendo importantes para as manobras da Mars Global Surveyor, que chegou à órbita do planeta no dia 11.
O perfil da temperatura traçado pelo módulo de descida da Viking-1, durante o seu pouso na superfície de Marte, em 20 de julho de 1976, em relação ao registrado pela Pathfinder, fez com que surgisse um debate sobre a provável mudança de clima em Marte, nestes dois últimos decênios.
Na verdade, a principal questão é saber se as camadas mais baixa e média da atmosfera (altitudes inferiores a 50 km) são mais "frias" ou mais "quentes" do que há 21 anos, no lançamento das Vikings.
A comparação dos dois perfis das temperaturas, em 1976 (Viking) e em 1997 (Pathfinder), mostrou que as camadas superiores da atmosfera de Marte, em julho de 1997 estiveram positivamente mais frias em relação às registradas pelas Vikings. De fato, a cerca de 80 km de altitude, a temperatura de 170°C negativos foi a mais baixa jamais detectada em Marte.
Todos esses resultados acumulados durante a missão Pathfinder permitiram uma minuciosa avaliação do clima marciano. A comparação desses dados com os obtidos pelas Vikings forneceu elementos suficientes para estabelecer a existência de uma variação da condição atmosférica marciana ao longo do tempo.
Nova visão
Um novo quadro do ambiente marciano emergiu, nos primeiros 60 dias, desde o momento em que a sonda Pathfinder e o seu pequeno mas eficiente microrrobô Sojourner, começaram a estabelecer um novo modelo do clima, da opacidade atmosférica e da composição química das rochas conduzidas, no passado, pelas águas à planície de inundação de Ares Vallis, onde desceu a Pathfinder.
Verificou-se uma diferenciação vulcânica muito maior do que a esperada. A grande concentração de sílica em uma das rochas pesquisadas sugeriu que a atividade da crosta -aquecimento e reciclagem de material- no início da história de Marte foi muito mais intensa do que se imaginava.

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