São Paulo, domingo, 21 de setembro de 1997
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Solidariedade pode retornar ao poder

IMRE KARACS
DO "THE INDEPENDENT", EM VARSÓVIA

O pêndulo polonês está voltando ao ponto onde esteve algum tempo atrás. Após a derrota esmagadora que sofreu há quatro anos, o Solidariedade chega às eleições parlamentares deste domingo com boas chances de derrubar seu eterno adversário: a esquerda.
No clube social da fábrica de tratores Ursus, o ambiente era como o dos velhos tempos. As pessoas na platéia engordaram um pouco desde a época em que a fábrica estava no epicentro da revolta, mas a mensagem transmitida desde o pódio não mudou muito.
O orador, Maciej Jankowki, dizia que os poloneses precisam opor uma última resistência contra as "oligarquias comunistas". De vez em quando o líder do Solidariedade, chefe do sindicato na região de Varsóvia, deixava escapar que estava se referindo aos "pós-comunistas", mas se apressava a acrescentar que nem por isso a ameaça era menos grave. "Mais um mandato e nunca mais nos livraremos deles", avisava.
Numa campanha excepcionalmente tranquila, os políticos da oposição vão até esse ponto para evocar o apocalipse. A Igreja Católica polonesa não sentiu a necessidade de ser tão circunspecta. "O comunismo é como um câncer. Precisa ser removido", declarou o arcebispo auxiliar de Varsóvia, Zbigniew Kraszewski, numa missa realizada no domingo passado com a presença de 100 mil fiéis.
O prognóstico parece ser favorável à retribuição divina. Os quatro anos passados longe do poder fizeram alguns dos filhos da revolução se unirem outra vez. Juntos mais uma vez num bloco de 36 partidos chamados Ação Eleitoral Solidariedade, as sondagens de intenção de voto os dão como empatados com a Aliança da Esquerda Democrática. A aritmética multipartidária é favorável ao Solidariedade.
Mas o partido/sindicato terá que se virar sem a ajuda de Lech Walesa. O eletricista de Gdánsk guardou sua caixa de ferramentas e agora brilha apenas no circuito mundial de palestras. Seu sucessor, Marian Krzaklewski, 47, conta com a garantia apenas da simpatia do ex-presidente.
Ele vai precisar de mais do que isso para derrotar o governo mais estável da era pós-comunista. A atual administração chega ao fim com um balanço positivo - um "boom" econômico sem precedentes no país, com crescimento anual de 6% nos últimos três anos, uma queda de um terço no índice de desemprego e um aumento acentuado na renda da população.
Os cartazes eleitorais dos ex-comunistas prometem "um hoje bom, um amanhã ainda melhor". Contra isso, o Solidariedade não pode fazer mais do que proferir queixas vazias. Ele argumenta, com algum fundamento, que o boom é o resultado direto das reformas lançadas por seu governo nesta década. Três anos mais tarde, a chamada "terapia de choque" derrubou o médico de seu cargo, mas seus efeitos benéficos são sentidos agora.
Com a economia andando bem e a Polônia se preparando para ingressar na UE e na Otan, com apoio bipartidário, o único argumento que resta ao Solidariedade é o anticomunismo.
"O mais importante é tirar os ex-comunistas do poder", diz o porta-voz do Solidariedade, Wojciech Blasiak. "Há corrupção no governo; seus integrantes vendem cargos oficiais a seus amigos; eles são incompetentes."
Os ex-comunistas também são acusados de orquestrar um boom pré-eleitoral que, a longo prazo, estaria destinado a levar o país à falência. "Nossa dívida nacional está crescendo", diz Blasiak. "As privatizações quase pararam."

Tradução de Clara Allain

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