São Paulo, domingo, 21 de setembro de 1997
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Deitado em berço esplêndido: chega!

ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES

É irônico. Num tempo em que acontecem tantas coisas no fronte interno, o nosso futuro depende tanto das decisões externas.
Na semana que passou, a política nacional foi marcada pelo desentendimento. A economia, pela controvérsia tributária. A área social, pela escalada da violência. E, no meio disso, as famílias continuaram preocupadas com o emprego, a saúde e a educação dos seus membros.
Ao mesmo tempo, no outro lado da terra, em Hong Kong, o FMI realizou sua reunião anual para tratar da saúde das finanças mundiais. Qual é a importância disso para o Brasil? Enorme, pois todos sabem que a nossa economia não está livre dos ataques dos especuladores.
As autoridades monetárias desdobraram esforços para dizer que as reservas brasileiras são suficientemente fortes para resistir à pirataria da especulação, por mais competente que seja o profissionalismo dos piratas.
Oxalá assim seja! Mas o assunto preocupa. No mundo inteiro, os capitais especulativos têm crescido mais do que os produtivos -proporcionalmente. Não é à toa que a maioria das nações é afetada por desemprego e subemprego ascendentes.
Especulação não gera postos de trabalho, mas apenas ganhos rápidos em cima das pobres presas da agiotagem. E isso acontece com gente de todas as origens, desde o trabalhador humilde até o produtor vigoroso.
O FMI colocou o tema na agenda. Afinal, uma de suas atribuições é zelar pelo equilíbrio dos países membros. A entidade busca ganhar atribuições para poder afastar os ataques especulativos das economias em desenvolvimento, como ocorreu no Sudeste Asiático.
A tese é louvável, mas parece um sonho. Para mim, controlar os especuladores é tão difícil quanto controlar os traficantes de drogas. Nunca vi um agiota quebrar. Pelo contrário, como o tráfico, a agiotagem se sofistica cada vez mais.
Enquanto o FMI não se transforma no sonhado banco central do planeta -se é que venha a ocorrer-, só nos resta fortalecer a nossa economia, o que implica melhorar os nossos métodos de produzir e vender. Para o Brasil, esse desafio é imenso e inadiável. Dentro dele, a tarefa mais essencial é a de elevar o empenho de todos nós.
Num quadro desses, uma sólida educação é fundamental para os trabalhadores e produtores. De todas as carências, a mais grave é a carência de idéias.
As guerras contemporâneas são guerras de idéias. São elas que servem de base para dominar ou libertar os povos. Só por meio das idéias poderemos fortalecer a produção e a comercialização, afastando a especulação.
Felizmente, a nação começa a acordar para a necessidade de elevar o nível educacional dos brasileiros. Mas essa terá de ser uma missão de todos nós e não apenas do governo para que o Brasil venha a fazer jus ao conceito de país emergente, saindo definitivamente da condição de deitado eternamente em berço esplêndido.

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