São Paulo, quarta-feira, 24 de setembro de 1997
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Reunião anual do FMI acaba sendo grande show de mídia

CELSO PINTO
DO ENVIADO ESPECIAL A HONG KONG

As reuniões anuais do FMI e do Banco Mundial têm uma peculiaridade: quando elas começam oficialmente, o mais importante já foi decidido.
O órgão deliberativo do Fundo, o Comitê Interino, reúne-se no domingo anterior. O do Bird, na segunda-feira. O Grupo dos 7 países mais ricos, no final de semana. O Grupo dos 24 países em desenvolvimento, no sábado.
Se existem itens práticos na agenda, o que nem sempre acontece, eles são decididos nesses encontros. Neste ano, decidiu-se o aumento do capital do FMI, a emissão de DES (Direitos Especiais de Saque, a moeda escritural do Fundo), a recomendação à diretoria-executiva para propor a liberalização no movimento de capitais, o perdão da dívida dos mais pobres e a agenda de combate à corrupção.
Quando a assembléia dos representantes dos 181 países é aberta, na terça-feira, o que se espera nos seus vários discursos são comentários sobre os temas que foram examinados nos órgãos deliberativos.
Mais do que isso, contudo, a reunião anual do FMI se transformou num gigantesco centro de encontros paralelos. Dezenas de seminários, debates, coquetéis, almoços e encontros são realizados e vale tudo na tentativa de atrair a atenção dos 14 mil participantes e dos 2.000 jornalistas.
Ontem, na porta do magnífico Centro de Convenções de Hong Kong, onde a reunião está acontecendo, um banco americano colocou moças uniformizadas distribuindo aos milhares de passantes um folheto convidando para um seminário sobre a Turquia. Foi-se o tempo em que a discrição e o segredo eram a alma dos encontros bancários.
O próprio Fundo e o Bird estão se adaptando ao novo espírito. O Bird organizou um seminário, no final de semana, onde foram convidados dois inimigos ilustres: o primeiro-ministro da Malásia, Mahathir Mohamad, e o megaespeculador George Soros. Quando Mahathir foi convidado, não se sabia que uma crise iria colocá-lo como o líder antiespeculação do mundo.
O fato, contudo, é que, num "briefing" à imprensa na sexta-feira, dado por um vice-presidente do Bird, os seminários do fim-de-semana foram anunciados como o show de mídia que, de fato, foram. Algo como uma revanche de Mike Thyson, sem tanto sangue, mas com a mesma emoção.
(CP)

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