São Paulo, quarta-feira, 24 de setembro de 1997
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Franco e FMI 'batem boca' sobre capitais

CELSO PINTO
DO ENVIADO ESPECIAL A HONG KONG

"Não acho que Franco tenha lido a proposta cuidadosamente", sugeriu ontem Stanley Fischer, o segundo homem na hierarquia do FMI, rebatendo as críticas feitas pelo presidente do Banco Central do Brasil, Gustavo Franco, à idéia do fundo de liberar os fluxos de capitais.
Menos de uma hora depois desse comentário, numa entrevista à imprensa, Franco voltou à carga. Ele é contra a proposta, diz que existem vários países contra a idéia e que "o Brasil não abrirá mão da liberdade de restringir capitais". A polêmica continua.
"O FMI não está empurrando os países para liberalizar imediatamente suas contas de capitais", insistiu Fischer. A proposta é inscrever a liberdade como objetivo último, mas permitir controles por períodos transitórios. "Por quanto tempo é algo que cabe aos países definir", disse.
O argumento de que o Brasil deu-se bem controlando capitais especulativos de curto prazo não deve ser visto "como o único modelo", disse. "A Indonésia liberou o fluxo de capitais desde 71 e não sofreu com isso."
Franco discorda. "Como seria se o Brasil não tivesse restringido a entrada de capitais (depois do Plano Real)? O câmbio teria apreciado ainda mais e o déficit comercial teria aumentado. Como é que o FMI exige liberdade na conta de capital e, ao mesmo tempo, faz críticas pelo déficit elevado?", pergunta.
Ele rejeita a idéia de que o controle sobre a conta de capital deve ser transitório e deve desaparecer em algum momento. "Temos que ter liberdade para o resto da vida", diz. Além disso, acha que "não tem cabimento" um país ter que submeter ao FMI suas idéias de como controlar os capitais voláteis.
A proposta, a seu ver, nasceu da ansiedade do FMI em "definir seu papel: não é um órgão de supervisão bancária, não é um banco e não é uma fonte de disseminação eficiente de informação". O Banco Mundial "pelo menos é um banco", compara.
Num ponto, contudo, ambos concordam. Fischer acha que, três meses depois do início da crise asiática, "é razoável supor que já vimos os efeitos de propagação". Ele não espera um efeito-contágio na América Latina.
Mais ainda, Fischer disse não ver o Brasil em perigo em função de seu elevado déficit externo em conta corrente. "O déficit tem sido largamente coberto por investimentos diretos, ajudado por um amplo programa de privatização". São "ingressos sustentáveis de recursos".
Além disso, o câmbio no Brasil não é fixo. "Se há uma coisa que o Brasil mostrou é pragmatismo", disse. O que "seria desejável" no Brasil é uma "consolidação fiscal mais rígida", algo sobre o qual "não há discordâncias do ministro da Fazenda (brasileiro)".
Fischer fez uma avaliação otimista sobre a implementação do programa do FMI pela Tailândia e previu que as reservas deverão se manter num nível mais alto do que previsto originalmente.
Franco diz que em seus contatos com investidores internacionais durante a reunião do FMI percebeu "uma grande irritação com a Ásia, maior do que a que houve com o México". O México admitiu que errou. "Ninguém falou como o primeiro-ministro da Malásia (Mahathir Mohamad), coisas primitivas, com antiamericanismo e antiimperialismo".
Otimista, Franco acha que os investidores tinham posições exageradas na Ásia e minimizadas no Brasil. Uma parte do dinheiro da Ásia, aposta, virá para o Brasil.

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