São Paulo, quarta-feira, 24 de setembro de 1997
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Pontos do novo projeto me intrigam

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Sou da geração que inventou o novo. Nouvelle Vague, Cinema Novo, Bossa Nova, Novacap, tudo novo, que o velho já era. O fim da história, que o pensador resolveu decretar com a queda do muro, já se havia celebrado no raiar dos 60. Nélson Rodrigues chamava-nos de as Novas Gerações, assim, com iniciais maiúsculas, para aumentar ainda mais as dimensões de sua ironia.
Só não inventamos o Estado Novo, que, de tão velho, para nós, acabou se transformando na mais negra e surpreendente novidade, quando chegou, no auge da consagração do novo, vestido de verde-oliva. Um horror, para o bom gosto em moda, bem mais discreto do que as cores psicodélicas que explodiriam no fim da década.
Mas o fato é que, sei lá por que cargas d'água, contrariando minha geração, sempre fui avesso aos modismos, ao novo pelo novo, embora compartilhasse do novo como avanço, fosse pela ruptura, fosse pela releitura do velho, desde que houvesse um toque de originalidade consubstanciada.
Dou essas voltas pra chegar à conversa que tive com um dos potenciais investidores no novo futebol brasileiro que o projeto Pelé pretende instituir. Saí do papo com algumas pulguinhas atrás da orelha.
Logo eu, que me arrogo, sem falsa modéstia, o título de pioneiro dessa história, posto que há mais de 20 anos batalho pela transformação dos clubes em empresas e pelo banimento da cartolagem incompetente (agora, também, safada) dos bastidores do nosso futebol?
Pois é, que fazer, se soy asi?
Há, por exemplo, dois pontos vitais na implantação do novo sistema que me intrigam.
Um é o conceito de investimento. O pessoal -controladores de fundos de investimentos-, pela própria natureza de suas aplicações, quer resultados imediatos.
Como garantir isso num jogo regido pela lógica do mais forte, mas também tocado pelo sortilégio do acaso? É bem verdade que, com gerenciamento adequado, um clube pode oferecer bons dividendos, mesmo não sendo campeão. Mas quem vai gerenciar essa nova estrutura do futebol?
Resposta do meu interlocutor: temos de achar gente boa no meio da cartolagem atual. É meeeermo? -como diria meu amigo carioca.
E ainda por cima vão querer resultados imediatos?
*
É claro que, diante do fato consumado (se o Congresso consumá-lo), soluções serão encontradas. Mas também é fato que, no período de transição, haverá quebradeira.
Além do mais, os investidores não se restringirão a fundos de investimentos, mas a empresas de vários tipos, que trabalham com expectativas a médio e longo prazos, pois o que lhes interessa é associar a marca a um certo clube, como é o caso Parmalat-Palmeiras.
A estes, que buscam aliar o novo à tradição, uma dica: reviver o saudoso Ipiranga, o Vovô da Colina Histórica, celeiro de craques como o Dr. Rúbis, Oswaldo Cabeleira, Rodrigues Tatu e tantos outros. No ano 2000, o Ipiranga completará um século de existência. Números redondos, como convém a um bom marketing.
E, partindo do zero, o novo-velho Ipiranga poderá ser modelo no próximo milênio.

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