São Paulo, sábado, 27 de setembro de 1997
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Filho teme despejo e 'sequestra' a mãe

MAURÍCIO RUDNER HUERTAS
DA REPORTAGEM LOCAL

A aposentada Maria Nunes Melo, 77, foi mantida refém em sua casa por cerca de dez horas pelo próprio filho, o contador desempregado Eraldo Nunes Melo, 47.
Às 17h45 de quinta-feira, ele trancou a mãe no quarto da casa onde moram, à rua Renê Bazim, no Jardim Floresta (zona sul de São Paulo), e passou a ameaçá-la com uma faca.
O Grupo Especial de Resgate da Polícia Civil e o Corpo de Bombeiros foram chamados pela vizinhança.
Eraldo disse que, se a polícia tentasse invadir a casa, ele mataria a mãe e cometeria suicídio.
Segundo familiares, Eraldo sofre de esquizofrenia -doença que prejudica as formas usuais de associação de idéias, a afetividade e o contato com a realidade (veja texto abaixo).
Prender a mãe teria sido um modo de chamar a atenção da família para a sua situação. Segundo os vizinhos, no dia anterior Eraldo havia recebido uma citação de despejo que teria motivado o descontrole.
Para impedir a entrada dos policiais, Eraldo improvisou uma "barricada" no quarto com um guarda-roupa, um criado-mudo, uma cômoda e um televisor.
Ele exigia a presença do irmão, o advogado Everaldo Nunes Melo, 49, que mora em Fortaleza (CE), mas estava em Aracaju (SE) a trabalho. Localizado às 22h de quinta-feira, Everaldo chegou ao local às 3h45 de ontem.
Enquanto os dois irmãos conversavam, a polícia invadiu a casa e resgatou a aposentada.
Eraldo não reagiu e foi levado ao 48º DP (Cidade Dutra), onde foi registrado boletim de ocorrência por cárcere privado e por constrangimento causado à vítima.
Ninguém ficou ferido, apesar de Eraldo ter em seu poder duas facas. O advogado Everaldo Nunes Melo afirma que seu irmão apresenta distúrbios maníaco-depressivos há 20 anos, mas nunca havia tido comportamento agressivo.
"Ele é uma pessoa doce, boa e incapaz de um ato de violência. Atribuo esse comportamento dele à minha ausência", diz Everaldo. "Depois que mudei para Fortaleza nossos encontros ficaram mais difíceis e isso pode ter alterado o comportamento dele."
Eraldo tem vários livros de psicologia e, segundo o irmão, é uma pessoa inteligente e muito amiga.
"Ele gosta de ler e sempre foi muito apegado à família. O caso dele não é de polícia, mas de tratamento médico", afirma.
"Durante o tempo em que ficou trancado com a nossa mãe, ele nada fez contra ela", disse o advogado. "Ela ficou lá com ele porque quis, não foi forçada a nada. Ela quis ser solidária, nada mais."

Colaborou o NP

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