São Paulo, sábado, 27 de setembro de 1997
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Obra compõe trajetória de Jacob do Bandolim

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

O livro "Jacob do Bandolim", de Ermelinda A. Paz, é parte da retomada, pela Funarte, de projeto de documentação bibliográfica em torno da MPB, que rendeu numerosos volumes nas décadas de 70 e 80 e foi dizimado no início dos 90 por Fernando Collor.
O foco dessa vez é o instrumentista Jacob do Bandolim (1918-1969), de quem se diz ter sido o reinventor do bandolim em terras brasileiras, o homem que abrasileirou o instrumento.
Discípulo de Pixinguinha (o abrasileirador da flauta), rival de bandolim de Luperce Miranda, descobridor de Elizeth Cardoso, criador do conjunto Época de Ouro e influenciador de Paulinho da Viola (entre muitos outros), Jacob atravessou tempos em que música não era ainda modo de vida.
Além de bandolinista, sempre foi funcionário público, mesmo quando já recebia regalias por causa de seu sucesso. Ajudou a criar o ambiente dos saraus no Rio de Janeiro, onde se formaram não só músicos, mas pensadores, estudiosos, jornalistas.
Apaixonado pela cultura popular de seu país, chegou a resmungar contra a ascensão da bossa nova, mas o livro narra que teve seu primeiro infarto estimulado pela emoção que sentiu, em 1967, devido à boa recepção que teve de uma platéia majoritariamente jovem e cabeluda -"ovelhas desgarradas", segundo ele.
O livro de Paz, pesquisadora, professora de música e integrante da Academia Nacional de Música, constrói-se sobre extenso material obtido, que inclui do acervo que o próprio Jacob constituiu em vida às memórias de sua mulher, Adília, e de seus filhos, Sérgio e Elena.
Apresentado como monografia em 1989 e só agora lançado em livro, abrange registros de gravações, discografia completa, depoimentos, cartas escritas pelo bandolinista, pesquisa profunda.
Com tantos dados e documentos em mãos, Ermelinda Paz compõe registro minucioso da passagem de Jacob pela música popular brasileira. Mas, a exemplo de outros registros documentais de MPB lançados pela Funarte, abstém-se de fazer verdadeira biografia.
Os dados não são dispostos de forma a constituir uma narrativa, mas antes vão se amontoando, fazendo ir e voltar desnecessariamente o tempo cronológico que ajudaria a entender melhor Jacob.
Esse parece ser, desde outros tempos, o método de trabalho da Funarte. É um método, não se pode negar, mas a iniciativa meio que se desperdiça por manter virgens de investigação narrativa personagens como Jacob do Bandolim.
Talvez por essa estrutura mesmo, a autora parece exagerada ao tentar, a cada momento, provar e comprovar o lugar garantido de Jacob na história (coisa que a gravadora BMG, dona de seu catálogo, não tem se esforçado por fazer).
Uma narrativa sobre sua vida e arte o faria por si só. Enquanto ela não vem, viva a documentação.

Livro: Jacob do Bandolim
Autora: Ermelinda A. Paz
Lançamento: Funarte
Quanto: R$ 16 (206 págs.)

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