São Paulo, sábado, 27 de setembro de 1997
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É o papai, é o papai

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Vai bem o Brasil em matéria de guardiães da moral e dos bons costumes políticos. Primeiro foi o ministro Sérgio "sauna" Motta brincando de vigilante do purismo social-democrata do PSDB.
Agora a coisa vem em dose dupla: os Magalhães (o pai, Antonio Carlos, e o filho, Luís Eduardo) fingem de aiatolás do Parlamento e até do Supremo Tribunal Federal, emitindo "fatwas" contra os infiéis.
Pena que nem um nem o outro tenham se lembrado do purismo, como caciques do PFL, quando se filiou ao partido o governador do Acre, Orleir Cameli, aquele cuja biografia leva mais jeito de folha corrida.
Pena que nem um nem o outro tenham se acanhado em defender, até o derradeiro suspiro, o governo Fernando Collor, único presidente da nada edificante história da República a ser expelido por "falta de decoro".
Pena que Luís Eduardo só agora se lembre de acusar o deputado Carlos Apolinário (PMDB-SP) de "chantagista e corrupto". Como líder do governo, não parece ter se importado com essas supostas características de seu liderado enquanto Apolinário votava a favor do governo.
Aliás, se há chantagem e se há corrupção, a obrigação mais elementar de qualquer líder é não só denunciá-las como exigir providências. Luís Eduardo, no entanto, silenciou até o momento em que foi contrariado. Não é exatamente um modelo de moral pública que se possa levar a sério.
O episódio, de todo modo, serviu para arrancar a levíssima camada de verniz com que o filho tenta se diferenciar do pai.
Este age como coronelão atrabiliário, o que nem faz questão de disfarçar. Mas o filho, ao contrário, sempre tentou parecer bom moço, moderno, educado etc.
Ao xingar Apolinário de f.d.p., sem muitos disfarces, o que se vê por baixo da casquinha de verniz? Para parafrasear o desenho animado da família dinossauro: "É o papai, é o papai".

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