São Paulo, domingo, 28 de setembro de 1997 |
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Ciro fará o PSDB mudar campanha Cúpula vê ex-tucano como adversário temido JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
Preocupados, os cardeais tucanos vão remodelar a campanha para enfrentar o novo adversário. Ficará a cargo dos publicitários de plantão do Palácio do Planalto bolar uma estratégia de comunicação para fazer frente a um candidato que, ao contrário de Lula e Maluf, também é pai do Real. Além disso, o PSDB prepara uma ofensiva para cortar suprimento político do adversário. Isso inclui, num primeiro momento, cooptar os deputados e prefeitos que poderiam se aproximar de Ciro. Depois, faz parte do plano jogar pesado nas bases eleitorais dos possíveis aliados do ex-ministro. O governador Miguel Arraes (PSB), por exemplo, pode esperar uma artilharia federal pesada a favor de seu principal adversário na sucessão estadual, Jarbas Vasconcelos. O objetivo da manobra é, senão evitar o apoio de Arraes a Ciro, ao menos obrigá-lo a priorizar a eleição em seu Estado. O mesmo deve ocorrer em Belo Horizonte, onde o prefeito Célio de Castro (PSB) é um potencial aliado de Ciro. Em 98, o PSDB deve inaugurar obras do metrô e centrar a campanha na capital. Apesar de serem crônicas anunciadas, a ida de Ciro do PSDB para o PPS e o lançamento de sua candidatura não eram esperados até o começo da semana passada por boa parte da cúpula do PSDB. Escorados na opinião do governador cearense e padrinho político de Ciro, Tasso Jereissati, os tucanos trabalhavam com a hipótese de que ele não disputaria a Presidência e continuaria no partido. O cenário traçado previa que Arraes bombardearia a candidatura de Ciro no PSB, e esse ficaria receoso de se isolar na campanha. Não foi o que aconteceu. Arraes esboçou reagir à entrada de Ciro no PSB, mas se viu em minoria no próprio partido. Os inesperados 8% alcançados pelo ex-ministro na última pesquisa eleitoral o viabilizaram como presidenciável. O resultado foi que no encontro dos partidos de esquerda, na semana passada, o PSB adiou a definição em favor de um acordo com PT e PDT. Não foi só isso que correu errado nos planos tucanos. A campanha estava modelada para enfrentar Luiz Inácio Lula da Silva (PT), adversário preferido por FHC por carregar rejeição. A idéia era praticamente ignorar o rival e usar o horário gratuito para "dialogar com o eleitor". O mote seria a defesa do Real e a necessidade de usar o segundo mandato para aprofundar as reformas. O problema é que esse é exatamente o mesmo discurso de Ciro. Com ele, não dá para FHC se diferenciar do adversário. Ao contrário, o ex-ministro tem cobrado desde já do governo aquilo que, pelo "script" original, seria prometido apenas para o segundo mandato: avanços na área social. Há uma segunda característica de Ciro que preocupa os tucanos: sua disposição para o embate e a possibilidade de o tom da discussão subir a um nível que FHC não está acostumado a enfrentar. Mais do que nunca, as realizações programadas para o último ano de mandato passaram a ser cruciais para FHC. Pode-se esperar fôlego renovado para obras, em especial do "Brasil em Ação". Isso deve ocorrer principalmente nos locais onde Ciro é mais forte, como Ceará (porto de Pecém) e Pernambuco (porto de Suape). Nem tudo são pesadelos na vida de FHC, é claro. Ele continua favorito e se beneficia de efeitos colaterais da entrada de Ciro no páreo. Sua candidatura, na visão de tucanos, é pá de cal nas aspirações presidenciais de Paulo Maluf (que ficaria sem espaço no Nordeste). Além disso, existe a possibilidade de Itamar Franco também se candidatar. Nesse caso, o feitiço viraria contra o feiticeiro: Ciro e o ex-presidente dividiram o mesmo espaço, acabando enfraquecidos. Por fim, ainda há esperança no PSDB de que a candidatura Ciro acabe naufragando pelo bombardeio de seus próprios "aliados", como leonel Brizola e Arraes. Duas datas são cruciais no calendário tucano: 3 e 15 de outubro. Após a primeira, fim do prazo de filiação para os candidatos em 98, o Planalto saberá como ficarão as composições estaduais. Passada a segunda, o governo também terá um cenário mais claro do que poderá ou não ser votado até o fim do ano no Congresso. As reformas da Previdência e administrativa, por exemplo, são polêmicas e podem causar tumultos indesejáveis em ano de eleição. Se não forem aprovadas em 97, o Planalto deve optar entre promover um esforço concentrado em março, para apreciar as reformas pendentes, ou deixar para votá-las após as eleições -quando, torcem os tucanos por uma vitória. Só falta combinar com os adversários. Texto Anterior: Lindberg troca o PC do B pelo PSTU Próximo Texto: Guru de Ciro quer subverter elite tucana Índice |
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