São Paulo, domingo, 28 de setembro de 1997
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Ataque aos nervos

JANIO DE FREITAS

A elevação de tensões, exibida nos numerosos ataques e chiliques com que os governistas pontuaram a semana, ganhou ainda mais impulso com o que foi apressadamente dado, na maioria dos meios de comunicação, como um resultado vantajoso para a reeleição de Fernando Henrique Cardoso. Na votação da nova lei eleitoral, o governo perdeu, de fato, em todos os pontos que mais desejava e ainda colheu uma ameaça inesperada para o esquema da reeleição.
Já no começo da semana apareciam partes de pesquisas indicando a tendência do PMDB de recusar seu apoio a Fernando Henrique, para competir com candidato próprio. Por uma delas, se a convenção do PMDB fosse agora, as delegações de mais de 50% dos Estados votariam pelo lançamento de candidato peemedebista. Por outra pesquisa, todos menos um só dos líderes de bancada peemedebista, nas Assembléias Legislativas, opinaram também pelo candidato próprio.
O poder de influência do governo no PMDB depositou-se, por força dos favorecimentos distribuídos, na bancada do partido na Câmara. A derrubada, agora, dos privilégios que o Senado dera ao candidato-presidente contou, porém, com a colaboração decisiva de boa parte dos deputados peemedebistas, apesar dos esforços do governo e das lideranças governistas na Câmara, inclusive do próprio líder do partido, o "anão" remanescente Geddel Vieira Lima.
Se peemedebistas deram tal contribuição para derrubar os privilégios de Fernando Henrique, só pode ser pelo propósito de resguardar condições de disputa para outro candidato. Há tempo suficiente para Fernando Henrique e seus agentes tentarem reverter a surpresa com a bancada do PMDB, mas a ameaça de insucesso juntou-se a outros indícios inquietantes. Perder o apoio do PMDB, detentor da maior máquina política pelo país afora, pode se revelar um prejuízo irreparável.
Quanto aos pontos da nova lei, foi dada como vitória governista a recusa dos R$ 420 milhões de verba pública para as campanhas, que poderão captar dinheiro à vontade -o que será muito mais fácil para Fernando Henrique. Mas, como estava no texto derrubado, a verba pública iria conviver com a captação tradicional, ou seja, o dinheiro público seria gasto sem diminuir a depravação financeira das eleições. Melhor, mesmo, que tenha outro destino.
O governo foi derrotado, também, no prazo de campanha. A oposição queria 60 dias e Fernando Henrique, que continuará em exibição nos telejornais todos os dias, queria espremer os outros candidatos no máximo de 30 dias de programa eleitoral gratuito. Serão 45 dias. E foi-lhe negado, também, o direito absurdo de convocar redes de rádio e TV para pronunciamentos. A difusão de pesquisas foi liberada. E, entre outras exigências governistas também derrubadas, tem relevo especial a que proibiria, por censura proposta pelo senador José Serra, cenas externas no programa gratuito.
Fernando Henrique assegurou o uso dos aviões da Presidência da República para sua campanha, mediante pagamento simbólico pelos partidos da sua aliança. Já a utilização de serviços oficiais de apoio, nas suas atividades de candidato, fica por conta dos cofres públicos. Ou melhor, dos nossos bolsos. Não deixa de ser uma vitória -mesmo para quem se propunha a moralizar a aplicação do dinheiro tomado aos cidadãos.

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