São Paulo, domingo, 28 de setembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Livro desvenda dúvidas sobre o pós-morte

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Será que numa vida depois da morte terei saudades dos amigos? Os que morreram antes de mim, estarão me esperando? E meus sanduíches preferidos, vou encontrá-los por lá? Vou passear com meus jeans, ou terei virado um espírito, uma consciência? E as coisas que fiz em vida, vão ser lembradas, vão ser julgadas?
São perguntas que, com certeza, não fazem parte de conversas em mesa de bar ou currículos de escolas. "Mas deveriam fazer", diz a psicoterapeuta norte-americana Sukie Miller, PhD em Psicologia Comparativa e Religião, fundadora e diretora de um instituto dedicado ao tema pós-morte.
A tese que Sukie vem propagando foi construída em oito anos de pesquisa em dezenas de culturas e religiões espalhadas pelo mundo.
Cerca de 200 sacerdotes, teólogos, xamãs, líderes espirituais e pacientes à beira da morte foram entrevistados. "A morte faz parte da vida", ela concluiu. Negá-la, só traria sofrimentos. Aceitá-la, ao contrário, poderia resultar numa morte mais tranquila.
Sukie Miller, 56, está no Brasil lançando seu livro "Depois da Vida - Desvendando a Jornada Pós-Morte" (Summus Editorial).
O livro traz o que ela chama de "inventário do pós-morte", onde quase 200 questões são colocadas para os leitores. O objetivo -diz ela- é conduzir a pessoa para uma reflexão e iniciá-la numa linguagem sobre o pós-morte. Seria uma espécie de "introdução a um tema tabu, negado pela ciência e maltratado pelas religiões".
Sukie tem os pés no chão. As três semanas que está passando no Brasil, a convite do Instituto Iniciativa Gaia, estão totalmente preenchidas com palestras e oficinas. Tanto aqui como nos EUA, seu público -segundo ela- é formado por pessoas que lidam com a morte, profissionais de saúde e pessoas que perderam familiares.
"As pessoas querem falar sobre o pós-morte, mas não têm com quem e não sabem como", afirma. Relatos colhidos de doentes terminais e terapeutas que trabalham com eles mostraram que as pessoas sofreriam menos se pudessem falar sobre a morte e o que viria depois dela, afirma Sukie.
Nesse mundo dos vivos, o que acontece do "outro lado" parece depender da crença e da religião das pessoas. Assim, em algumas culturas, elas acreditam que reencontrarão as pessoas queridas. Em outras, um guia estará à espera, pronto para tomar conta dela.
Para a pesquisadora, acreditar ou não na existência de uma vida após a morte não a tornará mais feliz ou perturbada, nem deixará sua morte mais tranquila ou mais angustiada. "O importante é que a pessoa tenha consciência daquilo que acredita", diz. "Não acreditar também é uma crença."

Texto Anterior: Dicas/enchentes
Próximo Texto: Africanos constroem casas para os mortos
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.