São Paulo, domingo, 28 de setembro de 1997
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Africanos constroem casas para os mortos

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A psicoterapeuta Sukie Miller acredita que há "um tempo para morrer", como "as frutas têm um tempo para amadurecer". "As pessoas morrem quando já cumpriram sua vida na totalidade." Até mesmo as crianças e jovens, quando morrem, teriam terminado seu ciclo, ela acredita.
Aqueles que não tiveram tempo de concluir seus projetos, poderão completá-los no primeiro estágio do pós-morte. Aqui, Sukie avisa: a crença não é sua, mas extraída das dezenas de culturas que estudou. "É antropologia, não religião", diz. Das pesquisas participou o psicólogo Edmundo Barbosa, parceiro de Sukie no projeto e diretor do Revida, Centro de Apoio ao Paciente de Câncer de São Paulo.
O segundo estágio seria o julgamento. No Egito antigo, dizia-se que seu coração seria colocado num dos pratos da balança enquanto no outro estaria uma pena. Se o coração fosse tão leve quanto a pena, a pessoa seguiria viagem.
O terceiro estágio é o das possibilidades. Alguns sistemas dividem em céu e inferno, outros acreditam que a alma vá para o espaço ou o fundo do mar. O inferno dos cristãos seria o mais terrível de todos. O quarto estágio é chamado de retorno, quando as pessoas ressuscitariam ou reencarnariam.
As viagens da autora permitiram contatos com culturas diversas. Na China, ela diz, é possível se comprar carros, relógios, dinheiro ou carteiras, feitas com papel, para depois serem queimadas e oferecidas aos mortos.
Em um vilarejo de cultura Nimbi, na África Ocidental, Sukie relata que os moradores constroem casas para seus mortos. Cada um que morre, ganha uma casa nova. As crianças e os parentes passeiam ali, como se o morto estivesse vivo.
Certos grupos da Indonésia acreditam que o morto só terá um funeral digno quando puder sacrificar 20 búfalos. Como os animais custam muito, a família reserva um quarto para o morto, que passa a "conviver" com os vivos durante anos.
(AB)

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