São Paulo, segunda-feira, 29 de setembro de 1997
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Brasil perde a preferência alemã

ANTONIO CARLOS SEIDL
DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil perdeu o primeiro lugar como receptor de investimentos diretos alemães em países em desenvolvimento nesta década, sendo ultrapassado pela Hungria, República Tcheca, Polônia e China.
O alerta sobre a queda do Brasil na preferência dos investidores alemães em países emergentes consta de um estudo inédito de Hermann Wever, presidente da subsidiária brasileira do grupo alemão Siemens, que prevê alcançar um faturamento recorde de US$ 2 bilhões este ano no país.
Atrás apenas dos EUA, a Alemanha ocupa o segundo lugar entre os maiores investidores estrangeiros no Brasil com um estoque de US$ 12,5 bilhões, ou seja 13,5% do total de investimentos estrangeiros realizados até hoje no país, que é de US$ 92 bilhões.
Mas, nos últimos cinco anos, o fluxo de capital alemão no Brasil "declinou notavelmente", conforme observa Wever.
Em 1996, por exemplo, com a entrada líquida de US$ 212 milhões, a Alemanha ficou em oitavo lugar na lista dos principais investidores no país, atrás dos EUA, França, Países Baixos, Japão, Suécia, Suíça e Bélgica.
"Sem dúvida nenhuma, para todos nós que trabalhamos para fortalecer o relacionamento entre o Brasil e a Alemanha, a diminuição dos fluxos de investimento alemão no Brasil é um dado bastante desabonador e desanimador", diz.
Uma recente pesquisa da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha verificou entre as empresas alemães uma vontade de investir no país, no período de 1997 a 2001, US$ 5 bilhões, algo em torno de US$ 1 bilhão por ano.
Mas, salienta Wever, intenção de investimentos não significa investimento de fato. A entrada de US$ 1 bilhão, segundo Wever, ajudará a inverter a situação "muito modesta" dos últimos anos sem garantir, porém, a manutenção da posição histórica dos investimentos alemães no país.
Trabalhando com a estimativa da Siemens de uma entrada no país de US$ 18 bilhões de investimentos diretos por ano até 2001, Wever faz um alerta aos investidores alemães.
"A partir do princípio que venhamos a investir US$ 1 bilhão por ano, isso significa pouco perante a estimativa de US$ 18 bilhões. Seria igual a pouco mais de 5%, se compararmos com a posição relativa que hoje temos de 13,5%. O resultado é que gradativamente iremos perder nossa posição de 2º maior investidor no Brasil."
Wever diz que seu alerta é importante porque esse nível de investimento não é compatível com o tamanho da economia alemã ou com as oportunidades que o mercado brasileiro oferece.
Segundo Wever, boa parte da explicação para essa situação está na falta de interesse da Alemanha no processo de privatização no Brasil.
Segundo o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), a Alemanha ocupa o sexto lugar na participação estrangeira no programa de privatização com 1,6% do total, ficando atrás dos EUA, França, Chile, Portugal e Espanha.
Para Wever, a Alemanha está fadada a ficar com essa participação "pífia" na privatização brasileira porque um terço do programa de desestatização já foi realizado.
"Os outros dois terços já estão em andamento", afirmou. Quem não se preparou para essa segunda fase, dificilmente vai conseguir se posicionar para estar em condições de concorrer com razoável sucesso."

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