São Paulo, segunda-feira, 29 de setembro de 1997 |
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Diretor da companhia é discípulo de Balanchine e Robbins
ANA FRANCISCA PONZIO
Em 1949, quando a companhia já estava estruturada, o coreógrafo Jerome Robbins, autor do musical "West Side Story", também passou a dirigi-la. Dessa linhagem, veio Peter Martins, que acabou sucedendo Balanchine e Robbins na direção do NYCB. * Folha - Você foi treinado no estilo romântico de Bournonville (coreógrafo que marcou o balé dinamarquês a partir de 1830). Que mudanças o encontro com Balanchine lhe proporcionou? Peter Martins - Com Balanchine aprendi a me mover de forma totalmente nova. Ele me revelou uma nova abordagem da dança, uma maneira nova de ver e ouvir dança. Balanchine abriu meus olhos e também meus ouvidos. Folha - Foi fácil adaptar seu corpo e temperamento ao estilo de Balanchine? Martins - No início foi difícil. Durante quase cinco anos sofri lesões físicas e muitas dores. Mas eu estava determinado a aprender. Sabia que Balanchine era o melhor e eu queria trabalhar com os melhores. Até que um dia, finalmente, comecei a dominar a técnica e o estilo que ele propunha. Folha - E qual é o maior desafio da técnica de Balanchine? Martins - Mover-se muito rápido. Seu trabalho tem muito a ver com velocidade, pois, em suas coreografias, um movimento se desdobra em muitos outros em curto espaço de tempo. Folha - Balanchine criou balés para você, como "Duo Concertante" e "Violin Concerto". Como ele concebia essas obras? Ele trazia as sequências coreográficas prontas ou criava com os bailarinos? Martins - As obras de Balanchine eram concebidas durante os ensaios, junto com os bailarinos. O processo era incrivelmente rápido. Ele permitia que os bailarinos contribuíssem na maior parte do tempo. Algumas vezes ele dizia que não gostava, outras não dizia nada e mantinha o que o bailarino havia sugerido. Tudo funcionava em colaboração. Folha - Havia algo em Balanchine que você não gostava? Martins - Nunca detestei nada em Balanchine. Ele era um homem muito divertido. Além de sua grandeza como coreógrafo e professor, que era evidente para todos, ele também era um sujeito legal. Fora do trabalho, em jantares ou almoços, ele era sempre engraçado. Folha - Quando você diz que a música é a força motora de suas coreografias, você está reconhecendo a influência de Balanchine? Martins - Sim. Sem música é muito difícil se mover, por isso a música é um impulso fundamental para o bailarino. Só me sinto estimulado a coreografar quando ouço e gosto de uma obra musical. Normalmente, é a música que me traz uma idéia capaz de se transformar em coreografia. Folha - Você acredita que a técnica clássica do balé ainda é uma fonte de inovações? Martins - Sim, porque esta técnica é como um idioma, inglês ou espanhol, que está sempre em evolução e muda o tempo todo. Todos têm que ter o seu dicionário e o mesmo ocorre com o balé clássico. Existe um dicionário imenso de passos, por isso é tão importante manter o clássico como base. Folha - É difícil ser o sucessor de Balanchine na direção do New York City Ballet? Martins - Sim, mas, por outro lado, também é fácil porque eu compartilho das mesmas coisas que ele acreditava. Folha - Além de Balanchine, você trabalhou com Jerome Robbins. Qual a diferença entre os dois? Martins - Enorme. Como eu lhe disse, Balanchine solicitava a participação dos bailarinos, enquanto Robbins chegava com idéias prontas, muito próprias e fortes. Para mim foi um privilégio trabalhar com estes dois opostos. Os balés de Robbins enfocam muito mais as emoções e a condição humana, enquanto os de Balanchine são mais abstratos, despertando uma visão da dança como movimento puro. (AFP) Texto Anterior: Programa traz Balanchine Próximo Texto: Christopher Reeve filma drama familiar Índice |
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