São Paulo, segunda-feira, 29 de setembro de 1997
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Vanderkeybus tira arte da superstição

DANIELA ROCHA
ENVIADA ESPECIAL A PORTO ALEGRE

Foi a partir de um poema antigo popular irlandês que o coreógrafo belga Wim Vanderkeybus criou o espetáculo "7 for a Secret Never to Be Told", exibido no último fim-de-semana no 4º Porto Alegre em Cena e que será apresentado no Rio de Janeiro nos dias 13 e 14 de outubro.
Segundo uma lenda irlandesa, quando alguém vê um corvo -considerado um mensageiro do bem e do mal-, deve fechar a mão esquerda, cuspir nela e cumprimentar o pássaro, para evitar os maus agouros.
Com o passar do tempo, um poema foi criado com os tais cumprimentos, formados a partir do número de pássaros avistados: "One for sorrow/ Two for joy/ Three for a girl/ Four for a boy/ Five for silver/ Six for gold/ Seven for a secret never to be told".
Com as palavras-chave do poema, sorrow (sofrimento), joy (alegria), girl (menina), boy (menino), silver (prata), gold (ouro) e secret (segredo), Vanderkeybus formulou o roteiro de um espetáculo para a companhia Ultima Vez, criada por ele em 1987.
"Eu me interesso muito por superstição. Acho que é como as pessoas encontram explicação para forças da natureza que as afetam.
"Cada um cria uma espécie de religião particular nesse sentido. Além disso, supersticiosos são pessoas que mantêm a cabeça sempre trabalhando. Gosto disso", disse ele, apesar de se considerar pouco supersticioso.
Em "7 For a Secret Never to Be Told", há sempre um bailarino protagonista em cada um dos sete esquetes do espetáculo. Mas entram também um mestre-de-cerimônias e um pássaro, o corvo.
"Mostro, a partir de um poema antigo, algo novo, atual, que não é apenas simbólico", disse.
No primeiro esquete, sobre sofrimento, os bailarinos fazem movimentos como se perdessem o equilíbrio para trás. "Sorrow é algo que vem daqui", explica Vanderkeybus, indicando a nuca e o alto das costas.
"Em joy, a idéia não foi colocar algo divertido em cena." Nesse esquete, ele buscou alegria a partir da metamorfose, da imitação, do desejo de ser diferente.
"Como quando se vê um bando de pássaros voando na mesma direção e, de repente, um deles desvia. É esse que chama atenção. O aluno que foge do padrão da classe é o mais interessante." Só para ilustrar: a companhia de Vanderkeybus tem bailarinos de seis países diferentes.
Na prática, ele elaborou para alegria uma espécie de cabaré, uma caixa, na qual o bailarino entra uma coisa e sai outra.
Em meninas, bailarinas fazem um jogo em que elas desenrolam tapetes longos uns sobre os outros. A expansão tem como contraponto a retenção da cena meninos, que se aglomera como uma montanha.
Em prata, o movimento é o de corte, do corpo caindo na lateral. "A prata remete à Lua, satélite que apenas reflete a luz, enquanto o ouro lembra o Sol, o fogo."

A jornalista Daniela Rocha viaja a convite da organização do festival.

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