São Paulo, segunda-feira, 29 de setembro de 1997
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Wenders busca a radiografia da violência

MARIANE COMPARATO
DA REVISTA DA FOLHA

Apresentada em seis cidades brasileiras e atualmente na Bahia (leia texto nesta página), a exposição de fotos do cineasta Wim Wenders prepara o público para seu novo filme, "The End of Violence" (O Fim da Violência).
O elenco traz Bill Pullman, Andie McDowell e Gabriel Byrne e deve estrear no Brasil em 98.
O cineasta alemão, nascido em Dusseldorf, é o autor de "Paris, Texas" e "Asas do Desejo".
"The End of Violence" é considerado seu filme mais americano depois de "Paris, Texas", embora o diretor afirme que esteja menos ideológico quanto ao que chama de "american dream".
Esperado com ansiedade em Cannes, o filme decepcionou o público do festival. Leia a seguir a entrevista que o diretor concedeu por fax à Folha.
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Folha - Hoje em dia, há um retorno à apologia da violência nos filmes, e seu novo trabalho chama-se justamente "The End of Violence". Houve motivação social?
Wim Wenders - Como sugere o título, o filme tenta lidar com a "violência" de um jeito diferente. A violência está se tornando um ingrediente usado em todos os filmes, não importa o assunto, como se fosse uma cobertura de bolo. Meu filme não vem com uma "mensagem" sobre violência, o quanto ela é ruim ou qualquer coisa do gênero. Isso seria muito estúpido. Apenas examina o fenômeno e tenta olhar para a violência de todos os lados.
Folha - O que conta o filme?
Wenders - "The End of Violence" é um filme de suspense. Conta a história de oito pessoas, todas vivendo em Los Angeles. No começo, elas não têm ligação alguma, e aos poucos percebemos que um ato de violência estava ligado a todos os personagens. Violência é algo poderoso. Pode transformar a vida de todo o mundo. A sua e a minha. Mas quando realmente acontecer com você -espero que isso nunca aconteça-, nenhum filme que você já tenha visto terá te preparado para isso.
Folha - Como era a sua relação com a cultura norte-americana na época de "Paris, Texas" (1984), e como é agora?
Wenders - Desde aquela época, eu cresci um pouco. Posso distinguir um pouco melhor a diferença do "american dream" -e eu incluo aquele sonho que eu mesmo sonhei certa vez, quando era criança- e a realidade dos Estados Unidos. Hoje, tenho menos expectativas. Sou menos ideológico do que eu era 14 anos atrás, quando fiz "Paris, Texas".
Folha - Parece que as trilhas sonoras dos seus filmes são muito importantes (U2, Madredeus, Ry Cooder, Lou Reed etc). Qual é a relação da música com seus filmes?
Wenders - Amo música. Sou muito influenciado pelo rock'n roll e eu tento incorporar na trilha sonora a música que me acompanhou durante as filmagens.
Folha - A maneira com que seus personagens lidam com o tempo parece ser uma preocupação recorrente nos seus filmes.
Wenders - "Tempo" é o componente principal dos filmes. Filmes são pedaços de tempo agrupados em um contexto determinado. Um escultor tem mármore ou madeira, um diretor tem o tempo para esculpir.
Folha - O que te inspira a filmar?
Wenders - Com frequência me inspiro por alguns lugares. Eu começo a escrever uma história para um filme porque eu quero explorar uma cidade, ou uma paisagem em particular. Sou influenciado por pintores e fotógrafos.
Folha - Quando você decidiu fazer filmes?
Wenders -- Tudo o que eu sempre quis ser quando crescesse era pintor ou escritor. Ser cineasta parecia simplesmente improvável no contexto dos anos 60 na Alemanha. Por outro lado, herdei uma coleção de curtas do meu pai, que eu assistia centenas de vezes. Havia filmes de animação, "O Gordo e o Magro", Buster Keaton e outros da Disney.
Foi só quando estava filmando meu quarto longa, "Alice na Cidade" (1974), que percebi que eu tinha algo a dizer e que filmar era incorporar tudo o que eu gostava, de pintura a contar histórias, passando por fotografia, arquitetura e, é claro, música.
Folha - Qual de seus filmes chegou mais perto das suas expectativas?
Wenders - Acho que o filme do qual estou mais orgulhoso é "Tão Longe, Tão Perto", porque provavelmente foi o mais difícil de ser filmado. E, com filmes, é um pouco como com crianças: você se apega àqueles que mais te deram trabalho e que têm problemas durante o crescimento.

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