São Paulo, segunda-feira, 29 de setembro de 1997
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Oratório mineiro decora quarto do papa em sua estadia no país

Peça faz parte da coleção particular de Ângela Gutierrez

CARLOS HENRIQUE SANTIAGO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

Uma das peças da coleção de oratórios da empresária mineira Ângela Gutierrez ficará, a pedido da Arquidiocese do Rio de Janeiro, no quarto que o papa João Paulo 2º vai usar para seus descansos diurnos enquanto estiver no país. O papa estará em visita ao Brasil entre 2 e 5 de outubro.
A peça mede cerca de 1,2 m, tem uma imagem de Nossa Senhora do Rosário e é adornada, no alto, por uma concha estilizada. Essa característica é típica do estilo rococó, que foi introduzido em Minas Gerais a partir de 1760.
Os oratórios também terão destaque na cidade histórica de Ouro Preto (MG). No ano que vem ela ganha um museu com oratórios da coleção de Ângela Gutierrez.
No interior do Brasil os oratórios grandes serviam como local de orações e celebrações religiosas, já que as cidades e igrejas ficavam distantes das casas de fazenda.
Em frente a eles eram realizados casamentos, batismos e missas. Os oratórios menores serviam para se levar em viagens.
Na coleção de Gutierrez, existem oratórios enfeitados com balas de espingarda e até um mini-oratório dentro de um ovo de ema. Há também os de tamanho médio, que ficavam nos quartos.
Com o tempo, no entanto, este hábito caiu em desuso e os oratórios foram abandonados nos cantos das casas e fazendas, geralmente sem as imagem dos santos de devoção.
Gutierrez ganhou seu primeiro oratório quando ainda era adolescente, mas ela conta que só percebeu realmente que tinha uma coleção em 1986, quando contou o número de peças e viu que já eram 45.
Nos últimos 11 anos, a coleção foi ampliada com mais de cem oratórios e foi exibida na sede da Unesco, em Paris, e em Lisboa.
Ao todo, são cerca de 160 peças, sendo que o oratório mais antigo foi feito no Ceará, no final do século 17.
Um deles tem uma imagem de São José de Botas, atribuída ao maior escultor do barroco mineiro, Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1738-1814). Originalmente a imagem não estava no oratório, mas se ajustou a ele.
"Todo santo procura seu oratório. É a sua morada. Alguns ficam três anos sem um santo, até que ele aparece", diz Gutierrez.
Há ainda um grande número de peças do século 18, oriundas de várias regiões do Brasil, principalmente das fazendas do interior de Minas.
Entre elas, chamam a atenção os oratórios de inspiração afro-brasileira, incluindo um que veio do interior paulista, com máscaras africanas entalhadas nas portas.
O novo museu ficará em um casarão cedido pela paróquia da igreja do Carmo e será reformado pela construtora Andrade Gutierrez. A inauguração está prevista para setembro do ano que vem.

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