São Paulo, segunda-feira, 29 de setembro de 1997
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Mostra prova que Tarsila é moderna

CELSO FIORAVANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Tarsila do Amaral nem estava por aqui em fevereiro de 1922, durante a Semana de Arte Moderna. Chegou mais tarde, fina, vinda de Paris, para conquistar, com todos os méritos, a fama de a mais modernista das artistas brasileiras.
Tal fama é verificável a partir de hoje, na mostra "Tarsila, Anos 20", que a galeria do Sesi inaugura, com 34 pinturas e 34 desenhos da artista, provenientes de coleções cariocas, paulistas e baianas. A mostra conta ainda com uma tela inédita no Brasil, "A Cuca", do museu de Grénoble (França).
O corte cronológico promovido pela mostra não chega a surpreender, já que, esticando-se até 1933, contempla todas as fases relevantes da carreira da artista.
Ali estão as obras de seus períodos pau-brasil (1924), antropofágico (1928) e social (1933). Nas décadas seguintes, Tarsila até tentou reativar alguns dos conceitos modernos de sua produção, como um neo-pau-brasil, nos anos 50, mas que não chega a vingar.
Tarsila do Amaral criou uma nova linguagem para a pintura brasileira, por meio de uma simplificação do campo visual, do uso de massas compactas de cor e da luminosidade de suas cenas. Reuniu, em perfeita simbiose, as vanguardistas correntes artísticas européias (o primitivismo de Rousseau, o cubismo de Léger, o suprematismo de Mondrian) e o imaginário popular nacional, sem ser militante ou panfletária.
"Tarsila acomoda o aprendizado da espacialidade cubista às suas anotações da especificidade brasileira. O jeito que ela absorve a racionalidade construtiva tem uma característica brasileira. Ela é condicionada à especificidade da paisagem nacional", disse a curadora Sonia Salzstein.
Mas mesmo no curto período abrangido, a produção de Tarsila não chega a ser coesa.
A mostra começa bem, com um clássico auto-retrato, de atmosfera surrealista, em que sua face totalmente ovalada parece pairar na tela. Mais adiante derrapa em trabalhos estudantis, como "O Modelo" e "Pont-Neuf", para depois atingir o melhor de sua produção, em clássicos como "Urutu", "São Paulo" e "O Mamoeiro".

Mostra: Tarsila, Anos 20 (34 pinturas e 34 desenhos)
Curadoria: Sonia Salzstein
Consultoria: Aracy Amaral
Onde: Galeria de Arte do Sesi (av. Paulista, 1.313, 2º andar, tel. 011/253-5877, Cerqueira César)
Vernissage: hoje, às 19h
Quando: de terça a domingo, das 9h às 20h. Até 30 de novembro
Quanto: entrada gratuita

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