São Paulo, terça-feira, 30 de setembro de 1997
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Congresso teológico discute família e aborto

CRISTINA GRILLO
DA SUCURSAL DO RIO

Nos bastidores da igreja, o Congresso Teológico Pastoral vem sendo considerado o evento mais importante, do ponto de vista teológico, durante a visita do papa.
Entre amanhã e sexta-feira serão discutidos no Riocentro, em Jacarepaguá (zona oeste), temas como a defesa da instituição da família, a sexualidade e a relação da família com as dependências químicas.
"O congresso dará ênfase às discussões sobre os direitos reprodutivos sob o ponto de vista filosófico e à questão demográfica", disse o acadêmico Tarcísio Padilha, secretário-geral do congresso.
Por discussões sobre os direitos reprodutivos, entenda-se a questão do aborto. A discussão não deverá, no entanto, desembocar em nenhuma alteração no modo como a igreja encara a questão.
"O que vamos discutir é a questão ética. Não cabe a ninguém recriminar as pessoas. Não vamos acusar quem faz um aborto, mas sim discutir a idéia", disse.
Esse é o segundo Congresso Teológico Pastoral da igreja. O primeiro ocorreu em 1994, em Roma, durante o 1º Encontro Mundial do Papa com as Famílias. Na época, ficou decidido que o congresso seria realizado a cada três anos para discutir questões ligadas à família.
No Rio, estão sendo esperados 2.500 congressistas -entre eles, cerca de 500 bispos e 20 cardeais. "Pelos corredores do Riocentro serão falados 44 idiomas, o que mostra a universalidade da igreja", disse Padilha.
O encontro será encerrado pelo papa, na sexta. Pouco antes da chegada de João Paulo 2º será lido o documento final do congresso, elaborado pelos congressistas.
Segundo o secretário-geral do congresso, o documento poderá ser usado como subsídio para a elaboração de futuros documentos do Pontifício Conselho para a Família, órgão presidido pelo cardeal Alfonso López Trujillo.
O congresso poderá apontar para alguns avanços na relação entre a igreja e as famílias. De acordo com Padilha, um exemplo é o aumento de declarações de nulidade de casamentos que vêm sendo autorizadas pelo Vaticano.
"Os itens que determinam a nulidade continuam os mesmos, mas a igreja vem acatando os progressos das ciências para verificar esses itens. Um exemplo é a questão do erro de pessoa. As correntes psicanalíticas têm ajudado a clarear a visão desse tipo de erro", explicou.
Outro ponto a ser discutido -e que, segundo Padilha, demonstra a preocupação da igreja em acompanhar a evolução da sociedade- é o "feminismo sadio": "Em um primeiro momento, a igreja não via com bons olhos o feminismo. Hoje apoiamos o feminismo sadio, aquele que reconhece a mulher como um ser humano completo e que precisa abrir seus espaços, mas com respeito às suas peculiaridades".

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