São Paulo, terça-feira, 30 de setembro de 1997
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SÃO PAULO VAI SE AFOGAR

Funcionários estaduais e municipais estão antecipando a tradicional chuva de acusações que tradicionalmente se segue às inundações em São Paulo, jogando a responsabilidade pelas cheias um na conta do outro. A rodada prévia de inculpações vem à tona por causa da estimativa de chuva ainda mais forte no próximo verão, atribuída ao "El Niño", um fato climático extraordinário.
No entanto, são fenômenos bastante ordinários, em todos os sentidos da palavra, os que fizeram das enchentes algo tão previsível no calendário como o Natal ou o Carnaval. São os comportamentos ordinários de governos e, em menor grau, de empresas e de cidadãos que despejam lixo e entulho nas ruas e rios.
O solo urbano, margens de rios e várzeas foram ocupados de maneira selvagem, impermeabilizados de modo a restringir o escoamento natural da água. Feito o estrago, a desordem no poder público contribui para agravá-lo. Administrações falidas não conseguem empréstimos internacionais para obras de desentupimento de rios, por exemplo. Intrigas políticas, ou mera inépcia, impossibilitam a ação coordenada das esferas de governo. O descaso com miudezas da administração, como a limpeza de bueiros ou coleta de lixo eficiente, resulta em grandes prejuízos para a vida da cidade.
Os atuais governos remetem para o próximo século a conclusão das obras antienchente. O problema, de fato, não se resolve em uma gestão, mas nem por isso a população deve deixar de cobrar as autoridades, nem esquecer dos responsáveis por esse estado de coisas. Enquanto esperam, os paulistanos deveriam começar a colocar no seu caderno de desafetos eleitorais os governantes que levam a administração pública à falência para erigir obras vistosas, mas de escasso efeito para o bem-estar geral dos habitantes da cidade.

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