São Paulo, terça-feira, 30 de setembro de 1997
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A agenda é trabalhar menos

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - O governo francês promove, no dia 10, uma conferência nacional sobre emprego, envolvendo todos os setores interessados. O objetivo é encontrar a quadratura do círculo, ou seja, aumentar o emprego sem reduzir os salários, mas diminuindo a jornada de trabalho.
O slogan é atraente, ao menos do ponto de vista do trabalhador: "35 horas de trabalho com 39 horas de salário". Posto assim, quem não topa?
Resposta óbvia: o patronato. Este até concorda, eventualmente, em reduzir a jornada de trabalho, desde que haja redução também dos salários.
A discussão, aliás, não vai se restringir à França, embora, nesse país, tenha adquirido grande dimensão por se tratar de uma iniciativa do governo socialista, empenhado, para surpresa de muitos, em ao menos tentar cumprir a agenda social com a qual ganhou a eleição.
Em novembro, em Luxemburgo, o conjunto dos 15 países europeus faz uma cúpula especial sobre emprego, na qual um dos temas centrais será também a redução da jornada de trabalho.
É óbvio que o tema interessa diretamente ao Brasil, embora, por aqui, a CNI (Confederação Nacional da Indústria) já tenha se antecipado, demolindo a tese de que a redução da jornada criaria mais empregos.
O fato é que essa questão tende a ganhar força crescente na agenda trabalhista e, por extensão, empresarial.
Até porque há pelo menos uma experiência bem sucedida, implementada na sede mundial da Volkswagen. A jornada de trabalho foi reduzida em 20% (para 28,8 horas semanais, diga-se), com um corte proporcionalmente menor do salário (15%).
Com essa medida, a Volks pode não ter aumentado o emprego, mas certamente evitou que crescesse ainda mais o já portentoso desemprego na Alemanha. A alternativa era a dispensa de 30 mil dos 128 mil trabalhadores da matriz da Volks. Detalhe: a empresa voltou a dar lucro, aliás muito lucro.

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