São Paulo, sábado, 4 de abril de 1998
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Acusado nega desvio e fala em aplicação

VANESSA ADACHI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os US$ 242 milhões que desapareceram do Banco Noroeste foram entregues a um gestor internacional, que seria responsável por aplicar o dinheiro do banco e, vencido determinado prazo, devolvê-lo, proporcionando um retorno para a instituição brasileira.
Essa é a versão narrada à Folha pelo ex-diretor da área internacional do Noroeste, Nelson Tetsuo Sakagushi, às 23h30 de ontem. Sakagushi está sendo acusado pelos ex-controladores do banco de ter desviado os recursos.
Segundo ele, não se trata de um desvio. "O problema é que o prazo para que esse dinheiro fosse devolvido ao banco foi muito ultrapassado", afirmou Sakagushi. Nesse atraso estaria a origem das suspeitas levantadas a seu respeito, segundo ele.
O ex-diretor da área internacional do Noroeste afirma não ter agido de má-fé. "Pode ter havido má avaliação do negócio por mim", disse ele.
Segundo ele, têm havido negociações com o gestor -cujo nome e origem são mantidos em segredo- para que o dinheiro seja, finalmente, devolvido ao banco.
O lastro da operação, de acordo com Sakagushi, era o financiamento da construção de um aeroporto internacional na Nigéria, país africano. "Esse era o ponto de partida. De lá, o dinheiro foi enviado para outros países", disse.
Parte da versão narrada por ele à Folha consta de uma petição assinada por ele e encaminhada ontem por seu advogado, Paulo Esteves, ao procurador-geral da Justiça do Estado de São Paulo.
Segundo descrito por Sakagushi no documento, em 1995 ele teria recebido a proposta para realizar tais operações com o governo da Nigéria, durante um encontro realizado em Londres.
O financiamento da construção do aeroporto demandaria, a partir de então, remessas mensais de US$ 5 milhões a US$ 10 milhões, que "retornariam ao banco com lucro expressivo", segundo a petição.
Ilhas Virgens
Para tal, Sakagushi utilizou uma empresa constituída nas Ilhas Virgens, denominada Staton, que solicitava as remessas à agência Cayman do Noroeste. As remessas tinham como destino, segundo Sakagushi, as contas correntes de "bancos de grande credibilidade e renome internacional no exterior".
Ainda de acordo com a petição, Nelson Sakagushi "acreditava na realidade e lucratividade da operação". Além disso, o ex-diretor do Noroeste afirma no documento que todos os valores remetidos constam nas fichas de remessas em poder do banco.
Não é essa a história, no entanto, contada em outro documento encaminhado pelos ex-controladores do Noroeste também ao procurador-geral na quinta-feira.
A queixa-crime assinada por Léo Wallace Cochrane Jr. e Luiz Vicente Barros Mattos Jr., ex-controladores e vice-presidentes da instituição, no entanto, refere-se a essas remessas como desfalques.
A queixa-crime descreve duas modalidades dos supostos desfalques. Uma delas consistia em saques "sem qualquer suporte contábil", que teriam sido autorizados por Nelson Sakagushi e por um subordinado seu, superintendente da área internacional e responsável pela parte operacional.
Oferendas
Nesse ponto, a petição narra a existência de uma evidência curiosa: uma folha de papel com valores escritos por Sakagushi, contendo a palavra "oferendas". Algumas fichas de saques, segundo o documento, têm quantias correspondentes às da anotação.
Outra modalidade de desfalque, segundo o documento, seria a transferência de valores a partir de saldos bancários mantidos pela agência Cayman do Noroeste em instituições internacionais.
As transferências, diz a queixa-crime, eram efetuadas a partir da matriz de São Paulo.
As transferências eram feitas por meio eletrônico com a utilização da senha de dois funcionários.

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