São Paulo, sábado, 4 de abril de 1998
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Globo recupera audiência com sua programação 98

FRANCISCO MARTINS DA COSTA
EDITOR DO TV FOLHA

Após sentir o amargo sabor da vice-liderança no horário nobre em frequentes ocasiões nas últimas semanas, a Rede Globo aparentemente neutralizou os efeitos do fenômeno "El Ratiño". A estréia da programação 98 da emissora fez com que seus índices de audiência superassem ou voltassem aos níveis de 97 (leia quadro).
A qualidade de algumas produções, no entanto, deixou a desejar, e algumas novidades esperadas simplesmente não foram exibidas.
Logo no domingo, o "Fantástico" foi ao ar com um cardápio fraquíssimo e sem o aguardado quadro de Marcelo Tas, o "Fora do Ar". A emissora, que havia anunciado recentemente que Pedro Bial e Carla Vilhena seriam os apresentadores do "Fantástico", escalou Zeca Camargo e Glória Maria para a noite da première de sua programação 98. Os destaques incluíam bocejantes reportagens sobre galos de briga e flashes da chegada dos convidados do "Sai de Baixo" ao vivo.
No "Sai de Baixo", que entrou na sequência, o texto -infantil e confuso- deixou claro que o programa só vale mesmo pelos cacos improvisados pelos atores. O elenco de personalidades da noite de gala foi decepcionante: Cauby Peixoto, Clodovil, Casagrande e Ana Maria Braga.
Na segunda-feira, a reestréia de "Malhação" mostrou que a decisão de abandonar a academia e investir em esportes radicais foi acertada. Mas falta também um texto melhor, como o do seriado "Dawson's Creek" (exibido no canal Sony), no qual adolescentes travam diálogos bem mais inteligentes que os de seus colegas globais ao falar dos mesmos temas.
"Era uma Vez", que substitui "Anjo Mau", é outro saco de clichês do horário, misturando "A Noviça Rebelde" com "Chiquititas". É tudo muito déja vu -a propósito, quantas vezes Nair Belo já interpretou um personagem com esse nome, dona Santa?
Na terça-feira, foi a vez de "Dona Flor e seus Dois Maridos". A minissérie é um "afoxé do crioulo doido": a farmácia de Teodoro mais parece uma botica da década de 30, o que não combina com os modernos shows de axé music e os tênis Nike calçados por Edson Celulari. A trilha sonora mistura Ivete Sangalo com bossa nova, e o elenco é irregular, com destaque para as boas caracterizações de Giulia Gam e Walderez de Barros e para as desastrosas participações de João Marcelo Bôscoli e Cláudia Liz.
Na quarta-feira, estreou o seriado "Mulher", que parece ter tudo para emplacar. O alvo principal é mesmo o público feminino, que não gostou nada dos tiroteios e perseguições e "A Justiceira" no ano passado. O formato alia os dramas comuns das novelas com uma produção extremamente bem cuidada e histórias que começam e acabam em um mesmo episódio. As estrelas da casa escaladas para atuar nos próximos episódios devem garantir o sucesso da série.
Jornalismo
Quem se deu bem nessa primeira semana foi Lillian Witte Fibe que, à frente do "Jornal da Globo", fez o telejornal registrar média de até 19 pontos de audiência com o novo horário (23h30). Lillian devolveu ao "JG" os comentários políticos e econômicos e livrou-se daquela irritante tarjinha que indicava quantos dias faltam para o ano 2000.
No "Jornal Nacional", o que mais impressiona é a indisfarçável intenção de transformá-lo em um programa de variedades. O show começa com uma voz anunciando: "Está no ar o Jornal Nacional, com William Bonner e Fátima Bernardes". E as reportagens cada vez mais apelam para o "fait divers" -o destaque da edição de anteontem, por exemplo, era o novo romance da macaquinha Capitu, do Zoológico de Brasília, sendo que, a metros dali, FHC mudava seu ministério.
Bonner e Fátima Bernardes mostraram a competência costumeira e, até o momento pelo menos, não deram uma de casal 20.
O novo "SP TV - 1ª Edição", com 50 minutos de duração, já deu demonstrações de agilidade nessa primeira semana e conseguiu escapar da tentação de simplesmente espichar as reportagens.
O único problema é a nova bancada, que lembra uma loja de roupas moderninhas. A impressão que fica é a de que, a qualquer momento, vai entrar em cena um daqueles apresentadores do "Shop Tour".
A edição de quarta-feira do telejornal foi antológica: Chico Pinheiro apertou o prefeito Celso Pitta e, durante a entrevista, o folclórico Márcio Canuto apagou as velinhas de um bolo para festejar com os moradores de uma rua da periferia o décimo aniversário de um enorme buraco no asfalto. Canuto perguntou ao prefeito se ele iria esperar o buraco completar 16 anos e tirar título de eleitor para só então tomar alguma providência.
Resta saber como vai se comportar a audiência nas próximas semanas, quando tudo isso já não for mais novidade.

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