São Paulo, sábado, 4 de abril de 1998 |
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"MUROS" DE IBERÊ CAMARGO "Cartão de Natal" (episódio em que Camargo matou a tiros o engenheiro Sérgio Areal, julgado depois como crime em legítima defesa) - "Acossado, recuo. Hesito, vacilo, sem nada compreender. Ando com passos titubeantes. Ressoam dois tiros no ar morno daquela tarde que se imobiliza para sempre na minha memória. O homem, atingido, estremece, ergue-se no ar como se impulsionado por uma onda invisível. Um urro inumano reboa e antecede sua queda. (...) Eu permaneço petrificado, mudo, como se uma catapulta me houvesse projetado para fora do tempo." "Hiroshima" (o artista faz paralelo entre o câncer que sofre e efeitos de radiação atômica) - Oito anos são passados. A princípio, apenas uma coriza renitente, sintoma da degeneração que se processava, oculta, inexorável e irreversível. Com o passar dos meses, a saliva se torna espessa, viscosa, quase uma baba. Sono intranquilo, acessos de tosse, respiração opressa, boca ressequida. Várias vezes, à noite, se ergue do leito para molhar a boca. Passa horas e horas insone a escutar o silêncio. No extremo da angústia, acende a luz com frequência, para espantar a noite e o medo." Trechos do livro "Gaveta dos Guardados", sobre experiências que transformaram radicalmente a vida de Iberê Camargo. Texto Anterior: Massi organiza escritos de Iberê Camargo Próximo Texto: "Quarta-feira" reúne Nepomuceno irregular Índice |
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