São Paulo, quarta-feira, 22 de abril de 1998
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Ausência de sintoma pode ter agravado caso

CYNARA MENEZES
AURELIANO BIANCARELLI

CYNARA MENEZES; AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Infartos do miocárdio são mais fatais para pacientes jovens; estresse e fumo complicaram o quadro

A ausência de sintomas anteriores e a soma de fatores de risco -fumo, estresse, hipertensão, colesterol alto e histórico familiar- podem ter transformado um acidente vascular controlável no in- farto que matou o deputado Luís Eduardo Magalhães ontem.
A opinião é partilhada por vários médicos ouvidos pela Folha.
Quando um paciente tem uma obstrução parcial da coronária, o organismo vai formando ao longo do tempo artérias colaterais por onde passa o sangue.
Nesse caso, a pessoa é alertada pela angina, ou dores no peito, o que não aconteceu com o deputado porque estas veias ainda não haviam se formado.
Luís Eduardo começou a se sentir mal por volta do meio-dia, quando fazia sua caminhada diária. Ele mesmo procurou o serviço médico da Câmara e deu entrada no Hospital Santa Lúcia às 14h30.
"Em um indivíduo jovem, o processo de infarto é muito rápido", disse o cardiologista Iran Castro, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia.
"Ele teria que ser submetido imediatamente a trombolíticos, medicamentos que dissolvem os coágulos", afirmou Castro. O deputado foi medicado, mas não reagiu às drogas.
Para o cardiologista, na verdade o fato de ser jovem foi um complicador para Luís Eduardo. "O indivíduo mais velho desenvolve vasos colaterais que ajudam a circulação. Além disso, num indivíduo jovem, a placa de aterosclerose (placa de gordura aderida à parede das artérias) é tão pequena que pode não aparecer em exames".
Daniel Magnoni, cardiologista do Hospital do Coração, explica que sempre que há o rompimento de uma placa ocorre um processo de cicatrização, que leva a uma oclusão, ou bloqueio da artéria coronária.
Diante do quadro, os médicos realizaram uma cineangiocoronariografia, procedimento que utiliza contrastes para verificar a condição das artérias.
Como todas as artérias estavam obstruídas, não foi tentado o cateterismo, procedimento que poderia desobstruir os vasos.
Segundo o boletim médico, o deputado apresentou uma bradicardia, redução importante dos batimentos cardíacos. O quadro evoluiu para uma assistolia, quando o coração pára de funcionar.
Décio Mion, chefe da Liga de Hipertensão do Hospital das Clínicas, disse que a soma dos fatores de risco é certamente a causa de infartos desse tipo. Segundo ele, estudos mostram que uma hipertensão não tratada envelhece uma artéria em pelo menos 20 anos.
Estresse
Mion diz que o fato de caminhar todos os dias era um fator positivo para o deputado. Mas o fumo em excesso, a vida estressada, os níveis altos de colesterol e triglicérides, além da hipertensão, o colocavam em posição de grande risco. Segundo amigos, Luís Eduardo chegava a fumar dois maços de cigarros por dia.
Esse quadro -segundo os médicos- pode levar a uma aterosclerose precoce, envelhecimento da parede dos vasos. Aterosclerose "endurece" a parede arterial, dificultando a expansão para a passagem do sangue.
A cardiologista baiana Lucélia Cunha Magalhães, que foi colega de Luis Eduardo no segundo grau em Salvador, acha que o deputado "estava sendo submetido a um estresse psíquico muito grande" e que a caminhada puxada pela manhã foi "uma sobrecarga física" que pode ter acelerado o processo de infarto.
Segundo ela, "não é raro que infartos aconteçam durante exercícios pesados". O normal é andar de 40 a 50 minutos diários, nunca se deve ultrapassar este limite", disse.
"Ele deveria ter feito exercícios com acompanhamento médico", afirmou a médica.
Ele acha que houve um "exagero" por parte do deputado nos exercícios físicos na manhã de ontem -caminhou o dobro que de costume-, mas não acredita em uma ligação direta com o infarto.

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