São Paulo, quarta-feira, 22 de abril de 1998
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Morte de pefelista paralisa o Congresso

FERNANDO RODRIGUES

FERNANDO RODRIGUES; LUCIO VAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Luís Eduardo era amigo de Fernando Henrique Cardoso e vital na articulação com deputados federais

Luís Eduardo Magalhães era o pefelista mais querido e respeitado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso. Por extensão, transformara-se no mais importante articulador do governo dentro da Câmara dos Deputados.
Sua morte inviabiliza a votação da emenda da Previdência, a última reforma importante que o governo esperava aprovar neste ano. Além de paralisar todas as votações importantes no Congresso -por exemplo, o projeto de emenda constitucional que propõe um Congresso Revisor em 99.
Quando presidiu a Câmara dos Deputados durante os primeiros dois anos de FHC no poder, Luís Eduardo deu todo o apoio que pôde ao presidente. Não admitiu sair do seu posto sem antes entregar para o presidente a emenda da reeleição aprovada.
Ganhou confiança total do presidente, por quem era atendido no momento que desejava.
Os outros parlamentares enxergavam poder nessa proximidade. Acordos fechados entre o Executivo e o Legislativo antes de uma votação importante só tinham relevância se Luís Eduardo fosse um dos fiadores.
A sua morte equivale a uma ponte dinamitada entre FHC e a Câmara. Assim como a morte de Sérgio Motta já havia significado a mesma coisa, no domingo.
Para aprovar alguma coisa no Congresso, o governo corre contra o tempo. Neste ano, dois eventos impedirão o pleno funcionamento da Câmara e do Senado no segundo semestre: a Copa do Mundo da França e a eleição de 4 de outubro. A idéia do Planalto era retomar a votação da emenda da Previdência na semana que vem.
Luís Eduardo era visto por alguns governistas como o substituto natural de Sérgio Motta nas negociações com a Câmara.
"Ele é o Sérgio Motta 'light', moderado. Não tem o mesmo contato com o presidente, mas tem prestígio", dizia o líder do PFL na Câmara, deputado Inocêncio Oliveira (PE).
Para o líder do PTB na Câmara, Paulo Heslander (MG), o governo se fiava, principalmente, em duas pessoas para obter sucesso nas votações na Câmara: Luís Eduardo e Sérgio Motta.
Antes da notícia da enfermidade de Luís Eduardo, o líder do PTB declarou o seguinte à Folha: "Agora, sem o Sérgio Motta, o governo ficará perneta na Câmara. Vai parecer um saci-pererê só com o Luís Eduardo".
Relação com FHC e 2002
O presidente FHC enxergava em Luís Eduardo um dos principais representantes da ala mais moderna do PFL. Apesar de ser filho do presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), o deputado não carregava como o pai, até por causa de sua idade (43 anos), a pecha de ter sido um dos sustentáculos do regime militar.
Além disso, Luís Eduardo se revelou desde cedo um fiel receptor de informações do Planalto. Era raro uma notícia confidencial vazar por intermédio do deputado.
O fato de Luís Eduardo ter pretensões políticas conflitantes com as do PSDB nunca o impediu de manter um bom relacionamento com os caciques tucanos. Isso se manteve inalterado mesmo depois que o deputado anunciou seus planos no mês passado.
Luís Eduardo desejava ficar em Brasília, disputando um cargo de deputado ou senador. Mas seu pai praticamente o obrigou a concorrer ao governo da Bahia.
ACM considerava vital a passagem do filho por uma função executiva, como forma de ganhar experiência para 2002, quando o PFL da Bahia pretendia eleger Luís Eduardo presidente da República.
Todos os movimentos políticos do partido, no que dependessem de ACM, eram para ajudar nessa estratégia. Por exemplo, em São Paulo o partido estava para se coligar com Paulo Maluf, do PPB, na eleição para o governo paulista.
A explicação de ACM era simples. Em São Paulo o PFL precisa barrar uma eventual vitória do tucano Mário Covas ao governo -que, se vencer, será um candidato natural a presidente em 2002. Isso seria ruim para Luís Eduardo.

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