São Paulo, quarta-feira, 22 de abril de 1998
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FHC rejeita negociação sobre vaga de Motta

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A MADRI

Mal desceu em Madri do Boeing presidencial KC-137, o presidente Fernando Henrique Cardoso fez questão de mandar um recado para a sua base de sustentação política:
"Quero deixar bem claro o seguinte: o ministro das Comunicações é escolha pessoal minha. Tem a ver com um processo importante, técnico, de ordem econômica, e não está submetida a nenhuma negociação de nenhum tipo."
O recado tem o claro objetivo de cortar especulações, já presentes nos jornais de ontem, a respeito do apetite do PFL pelo cargo deixado vago com a morte de seu titular, Sérgio Motta.
O PFL, por meio do hoje senador Antonio Carlos Magalhães (BA), comandou a pasta das Comunicações durante todo o governo José Sarney e, indiretamente, no governo Fernando Collor.
Mas a mensagem do presidente parece destinar-se, igualmente, a evitar o confronto que se produziu na sua base política assim que o senador José Serra (PSDB-SP) foi designado ministro da Saúde.
Os demais partidos governistas assanharam-se para abocanhar cotas de poder, no pressuposto de que o PSDB ficara fortalecido.
Hoje, o governo já avalia, pelo menos na intimidade, que o resultado da reforma foi um desastre para a sua imagem, ao explicitar a voracidade dos aliados do presidente e a barganha decorrente.
Por isso, FHC quer evitar que a substituição de Motta dê origem a outra batalha interna desgastante.
O condomínio
O próprio presidente indicou, no desembarque em Madri, essa solução: "Desde antes da morte do Sérgio, quem estava supervisionando (o processo de privatização das telecomunicações) era o Mendonça de Barros, e o ministro interino que lá está e vai continuar é uma pessoa com muita afinidade com o programa do governo".
O presidente só não disse se Quadros fica como ministro interino até a escolha de um substituto ou se será efetivado no cargo. "Vou ver na minha volta, mas não creio que haja necessidade de pressa nessa matéria", afirmou.
Fez questão de dizer: "A linha da privatização é minha, é do governo e vai continuar da mesma maneira".
Se a lacuna administrativa deixada por Motta é tida como preenchida no governo, com Quadros efetivado ou substituído por alguma escolha de FHC, o mesmo não acontece em relação ao vazio político deixado pelo mais próximo amigo do presidente.
Um vazio triplo, aliás: no relacionamento do governo com o Congresso e os partidos, no PSDB e no comando da campanha presidencial à reeleição.
José Gregori, secretário de Direitos Humanos do governo e do círculo de amigos do presidente, admite que essa lacuna é difícil de preencher. Imagina até que ela será coberta via conquista de espaço por alguma personalidade tucana, em vez de por indicação.
Entre os nomes mais cotados para ocupar pelo menos parte do espaço de Motta o mais destacado é o do ex-deputado Pimenta da Veiga, que deixou a presidência do PSDB por causa de um atrito com o próprio Motta.
O outro nome mais falado, o do governador Tasso Jereissati (CE), tem o inconveniente de que é o único candidato do PSDB com chances de vencer a eleição no Ceará.

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