São Paulo, quarta-feira, 22 de abril de 1998
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Bancos ignoram regra do BC que protege clientes

VANESSA ADACHI
DA REPORTAGEM LOCAL

Apenas 39% das instituições financeiras credenciadas no Banco Central para administrar recursos de clientes cumpriram o prazo fixado em 31 de março para separar definitivamente o dinheiro da clientela do caixa próprio.
Havia um prazo de quatro meses para atender às novas exigências do BC -baixadas em 27 de novembro de 97. Mas, apesar desse prazo longo, de um total de 274 instituições, 167 deixaram de cumprir a regra.
A circular do BC estabelecia basicamente duas coisas. Que a administração de recursos de terceiros (clientes) fosse segregada das demais atividades da instituição, por meio de um departamento específico, uma empresa ou por terceirização. E que um diretor ou sócio fosse designado exclusivamente para a área, passando a responder por ela perante o BC.
A intenção do governo foi conferir maior segurança e transparência ao setor, responsável pela gestão de R$ 132 bilhões em fundos de investimentos, além de outro tanto em carteiras administradas.
As instituições que deixaram de tomar as providências não sofrerão, por enquanto, penalidades.
O BC decidiu aprovar a prorrogação do prazo na reunião do Conselho Monetário Nacional, marcada para 30 de abril. Segundo o BC, há o entendimento de que a nova regra demanda alterações nas instituições e, portanto, existe a necessidade de mais tempo.
A maioria dos grandes administradores de recursos de terceiros, principalmente os grandes bancos, cumpriram o prazo.
Os bancos oficiais estão na lista negra dos que deixaram de atender às exigências e já receberam um prazo maior do governo. O Banco do Brasil, maior administrador de fundos do país, com patrimônio de quase R$ 24 bilhões, ficou de fora.
Em voga nas economias mais desenvolvidas, essa segregação, conhecida como "Muralha da China", visa evitar o conflito de interesses entre clientes e tesouraria.
O que significa evitar que prejuízos das instituições sejam jogados dentro dos fundos de investimento e que lucros dos fundos, que deveriam ir para o bolso do cliente, sejam apropriados pela tesouraria.
Algumas instituições vinham se adiantando a uma regulamentação como a que foi baixada pelo governo em novembro. Muitas delas, sob influência de suas matrizes ou parceiros, como o Lloyds, o BBA e o BankBoston.
Entre os grandes bancos brasileiros, o Unibanco foi o pioneiro, criando a Unibanco Asset Management em agosto de 95.
A decisão do governo de exigir a constituição da "muralha" veio em resposta à crise financeira de outubro de 97, quando muitos clientes perderam dinheiro. A enxurrada de reclamações levantou dúvidas sobre os critérios de administração adotados.
Para alguns especialistas, o grande número de instituições que não conseguiu cumprir a norma mostra a imaturidade do mercado brasileiro de fundos.

Texto Anterior: EUA são referência em produtividade
Próximo Texto: Diretor é o responsável
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.