São Paulo, quarta-feira, 22 de abril de 1998
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Os profissionais do século 21

LUIZ GONZAGA BERTELLI

O século 21 se aproxima, trazendo revisões das habilidades relacionadas com o perfil do profissional.
O mundo do futuro exige que o profissional se torne polivalente. Mas não há como abordar esse assunto sem passarmos pela questão da educação.
Inquestionavelmente, será o maior desafio do país. Chegou a hora de enfrentá-lo, pois não existe avanço tecnológico ou modernidade que funcione sem cérebros bem preparados.
A educação brasileira está melhorando, em comparação com décadas passadas. O número de estudantes matriculados em cursos de 2º grau ou superior aumentou consideravelmente, e o de analfabetos tem sido reduzido.
Contudo os números ainda são alarmantes. No Brasil, com uma População Economicamente Ativa estimada em 74,1 milhões de pessoas, apenas 20 milhões concluíram o ensino médio e 5 milhões apresentam formação universitária, o que indica que existem cerca de 46 milhões de trabalhadores brasileiros sem preparo suficiente para atuar em empresas modernas ou mesmo sem condições de uma requalificação profissional adequada, pois 19 milhões são analfabetos.
Números do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) apontam o recebimento de um salário mínimo por parte de 28% dos trabalhadores brasileiros, cuja escolaridade não passa de quatro anos. Por outro lado, pessoas que ganham mais de cinco salários mínimos -faixa que corresponde a 12% do número total de trabalhadores- passaram pelo menos dez anos na escola.
Em relação ao ensino superior, há também urgência em soluções: enquanto em países da América Latina 20% ou 30% da população jovem continua estudando após o nível médio, no Brasil não conseguimos ultrapassar 10%. O ensino superior não se expande há mais de 15 anos, dificultando o aumento da produtividade do país.
Mas a educação não é apenas tarefa do governo, e sim de toda a sociedade. O encontro de soluções realistas é uma exigência do tempo presente. É preciso incrementar a parceria educação-trabalho para suprir as necessidades do desenvolvimento de tecnologias e da formação profissional, o que poderá ser conseguido por meio de eficientes programas de estágio e treinamento para estudantes nas empresas.
Há também respostas imediatas diante dessas novas exigências por parte das universidades, apontadas pela professora Alicia Camilloni, secretária de Assuntos Acadêmicos da Universidade de Buenos Aires (UBA). Limitar o número de especialidades de graduação e formar, assim, profissionais mais generalistas e versáteis é uma delas.
Outro caminho seria combinar os conteúdos das carreiras atuais e criar novos programas de formação. Na Grã-Bretanha, já foram unidas as áreas de administração e de química, a fim de formar profissionais que administrem indústrias químicas.
O sistema universitário americano, considerado o mais avançado do mundo, é constantemente avaliado. Se uma faculdade é considerada de alta qualidade, com satisfatória formação de profissionais e respeitável produção científica, ela se habilita a receber doações privadas e verbas oficiais, atraindo alunos qualificados.
Antes de escolher uma determinada escola, o estudante tem à disposição as classificações das faculdades americanas, efetuadas por acadêmicos e empresários e divulgadas amplamente.
O profissional do futuro deve ser polivalente, multinacional, alerta e curioso -uma pessoa que se comporte como aluno interessado o tempo todo. Seu perfil deve envolver uma série de características: ser empreendedor, perspicaz, criativo, crítico, dinâmico e ter capacidade de análise.
Esses são alguns dos requisitos que as empresas pedem hoje. A qualificação do profissional não exige apenas treinamento técnico, mas sobretudo uma base sólida de conhecimentos, atitudes e habilidades. É o que podemos denominar cultura humanística, que envolve a boa comunicação somada ao conhecimento geral.
O jornalista Gilberto Dimenstein relata a surpresa do americano quando se menciona que o professor universitário brasileiro se aposenta aos 50 anos. Nos EUA, mestres idosos, circulando pelos corredores das universidade, fazem parte do cotidiano e da paisagem educacional da grande nação.
Dessa forma, acreditamos na tese de que a escola e a empresa precisam aprimorar o seu papel na sociedade. Dessa parceria surgirão gerações de profissionais capazes de enfrentar os desafios do novo milênio.

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